Por que falar de poesia na sala de aula? Como trabalhar com o gênero lírico em turmas do Ensino Fundamental e do Médio? Quais são as dificuldades enfrentadas pelos professores? Será que os livros didáticos são eficazes nessa abordagem? É mesmo necessário usar livro didático para falar de poesia e fazer disso um processo quase burocrático ou é possível tornar essa aula agradável? Essas são algumas das indagações presentes no livro Poesia na sala de aula, escrito pelo professor José Hélder Pinheiro Alves, e lançado pela Parábola Editorial em 2018.
O autor é atualmente professor titular em Literatura Brasileira na Universidade Federal de Campina Grande (PB) e membro do Grupo de Trabalho Literatura e Ensino da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL). São perceptíveis, por meio de sua escrita, a experiência docente de mais de 30 anos e sua passagem pelos diversos níveis de ensino até chegar a formação de outros profissionais.
A publicação é dividida em nove capítulos, além de conter uma excelente bibliografia comentada quase toda dedicada à poesia. Na introdução, o autor relata um pouco de sua experiência docente em língua portuguesa e literatura. Os capítulos seguintes promovem ─ explicitamente ou não ─ a reflexão e as propostas acerca das indagações apresentadas no início deste texto.
O primeiro capítulo (“Poesia na sala de aula: por quê?”) traz a constatação de que esse gênero literário é o “menos prestigiado no fazer pedagógico em sala de aula” (PINHEIRO, 2018, p. 11). O levantamento feito por Pinheiro em dissertações e livros didáticos apontou um distanciamento entre o gênero e os estudantes. Se isso ocorre, qual é o papel do professor para reverter esse quadro? A resposta a essa pergunta passa pela formação docente e pelo perfil de letramento do professor, uma vez que ele formará novos leitores. O mesmo capítulo promove a discussão acerca da função social da poesia e sobre como os textos poéticos são inseridos no cotidiano escolar.
O segundo capítulo (“Estratégias e sugestões”) é, segundo o próprio autor, mais didático do que os demais e apresenta, de forma resumida, algumas experiências bem sucedidas em sala de aula. O ponto de partida é a dificuldade enfrentada por professores, alunos e leitores comuns ao ler poemas em voz alta. Como sugestões e estratégias apresentadas por Hélder estão a organização coletiva de antologias poéticas, identificação de diversos poemas com temas semelhantes, montagens teatrais baseadas nos textos lidos, escuta de canções e leitura dos textos ouvidos, e leitura de coletâneas completas de poemas.
Os capítulos seguintes (“Poesia e jogo dramático” e “Literatura de cordel”), assim como o anterior, também apresentam sugestões de abordagem da poesia na sala de aula. O terceiro capítulo contém algumas referências teóricas acerca dos conceitos de jogos dramáticos e exemplos de como usá-los no contexto escolar. Já o quarto, apresenta possibilidades de uso da literatura popular, mas chama atenção o relato pessoal que o autor faz sobre esse tipo de literatura: “Foi através da literatura oral, no meio popular, que tive meu primeiro contato com a poesia, com violeiros, emboladores e, sobretudo, com familiares que recitavam poemas ou pequenas quadras” (PINHEIRO, 2018, p. 101). Os três últimos capítulos (“Poesia para jovens leitores”, “Em busca do estado da poesia” e “Antologias e livros de poemas”) trazem, respectivamente, propostas para abordar o poema em turmas de jovens leitores.
O leitor conhecedor da pesquisa realizada pelo professor Hélder Pinheiro verá que os temas abordados nos capítulos já haviam aparecido em artigos por ele produzidos desde que era pós-graduando em Literatura Brasileira. Um exemplo disso é o relato de experiência “A poesia na sala de aula”, publicado em 1988 na Revista Linha D’Água (USP): o pesquisador descrevera as atividades realizadas em sala de aula no período de 1980 a 1985 com turmas do Ensino Fundamental.
Recomendo o livro Poesia na sala de aula a professores e graduandos de Letras. Outro professor que o leia terá a sensação de conversar com um colega de profissão; o graduando, talvez, se sinta em uma aula (agradabilíssima) de estágio supervisionado.
Para adquirir o livro e ler suas páginas iniciais, visite o site da Parábola Editorial: https://www.parabolaeditorial.com.br/poesia-na-sala-de-aula-71680850
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Referências:
PINHEIRO, H. Poesia na sala de aula. São Paulo: Parábola, 2018 (Série Estratégias de Leitura, 61)
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