Linguística

8 músicas para entender as funções da linguagem

Toda vez que elaboramos um texto, nós o fazemos com um determinado objetivo: informar, convencer nosso  interlocutor a realizar uma determinada ação, estabelecer o contato com  alguém,  dar explicações, falar sobre nós mesmos… Assim, cada texto tem  um objetivo, uma função e nós refletimos sobre esse aspecto quando abordamos elementos da comunicação e as funções da linguagem.  As canções ouvidas por nós todos os dias  também podem ser utilizadas como recurso para compreendermos essa área da linguagem.

Você lembra quais são os  elementos da comunicação?

Antes de vermos as funções da linguagem, cabe observarmos os elementos da comunicação, identificados por Roman Jakobson, linguista russo nascido em 1896. Para o pesquisador, qualquer ato comunicativo é composto por seis elementos:

elementos da comunicação
Função emotiva

Senhas. Adriana Calcanhoto. Link para o YouTube.

Na função emotiva,  o elemento da comunicação em  evidência é  o  emissor e  a marca gramatical predominante é o uso de verbos e pronomes que  remetem à primeira pessoa do discurso. Observe, no trecho abaixo,  como o eu lírico repete o pronome pessoal do caso reto  Eu e a primeira pessoa do singular do verbo gostar:

Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Função apelativa

Pra não dizer que não falei das flores. Charlie Brown Jr.  Link para o YouTube..

Nesta função, evidencia-se o  receptor, aquele  irá receber a mensagem: ouvinte, leitor, telespectador, usuário. Geralmente, o texto caracteriza-se  pela presença de verbos  no  modo imperativo e referências  diretas ao interlocutor, por meio de vocativos. A essa função correspondem as propagandas, receitas de bolo,  receitas médicas, manuais de instrução, questões de provas,  os conselhos, as solicitações… A canção  Pra não dizer que  não falei das flores, de Geraldo Vandré,  foi  apresentada em  1968 e era uma canção de protesto. Repare como o refrão convoca o receptor a uma tomada de ação:

Então, vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora e não espera acontecer
Então, vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora e não espera acontecer

Não vá ainda. Zélia Duncan. Link para o YouTube.

Em Não vá ainda, a função apelativa aparece desde o título, por meio de  um pedido explícito feito ao receptor da mensagem.  Ao longo do texto, os apelos são reiterados.

Por favor não vá ainda
Espera anoitecer
A noite é linda
Me espera adormecer
Não vá ainda
Não, não vá ainda…

Me diga como você pode
Viver indo embora
Sem se despedaçar
Por favor me diga agora
Ou será!
Que você nem quer perceber?
Talvez você
Seja feliz sem saber…

Função referencial

Faroeste cabloco, Legião Urbana. Link para o YouTube.

Como a nomenclatura sugere, o elemento  principal  na função referencial é o referente, ou seja o  assunto  da mensagem. Como características gramaticais,  temos o uso de frases  em ordem  direta, verbo   na terceira pessoal do singular ou do plural e  o assunto apresentado  com  certa objetividade.  Em Faroeste cabloco, de Renato Russo, embora seja possível constatar também a função  poética,  o que se percebe facilmente é uma narrativa sobre o  personagem João de Santo  Cristo.

Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu

Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da cercania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu

Função fática

Sinal fechado. Paulinho da Viola

Acesse também no  YouTube.

Na função fática,  o elemento da comunicação predominante é o  canal.   Esta função está  presente nas mensagens  cujo objetivo  é estabelecer, manter  ou  cortar o contato e pode ser observada em  mensagens simples “Bom dia!”, um “Alô, você está me  ouvindo?” ou  “Oi, tudo bem?”.

Olá, como vai ?
Eu vou indo e você, tudo bem ?
Tudo bem eu vou indo correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você ?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe …
Quanto tempo… pois é…
Quanto tempo…

A canção Sinal  fechado descreve um encontro acidental de  amigos  no  momento em que um sinal de trânsito fecha e  a conversa bastante informal acontece rapidamente.  A mesma função  pode ser observada  na canção Um minuto, interpretada pelo cantor D’Black.
Se não conseguir visualizar, assista no  YouTube.
 
Repare o trecho  em negrito e veja que o trecho em  negrito contém termos utilizados  para estabelecer o  contato  com quem se fala. 
Alô? Olha, eu só tenho um minuto
Por onde quer que eu vá vou te levar pra sempre
A culpa não foi sua
Os caminhos não são tão simples, mas eu vou seguir
Viajo em pensamento
Numa estrada de ilusões que eu procuro dentro do meu coração
Função  metalinguística

Samba de uma nota só. Vanessa da Mata

Se não conseguir visualizar o player, veja no YouTube.

Na função metalinguística,  evidencia-se o  código (Um conjunto de signos, regras, por meio dos quais a  mensagem a mensagem é  elaborada).  É o que  acontece com a canção Samba de  uma nota só, escrita por Tom Jobim: o poeta descreve o seu processo de criação musical por meio da linguagem musical.

Eis aqui este sambinha feito numa nota só
Outras notas vão entrar, mas a base é uma só
Esta outra é consequência do que acabo de dizer

 Como eu sou a consequência inevitável de você
Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada
Ou quase nada
Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada
Não deu em nada
E voltei pra minha nota como eu volto pra você
Vou contar com uma nota como eu gosto de você
E quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
Fica sempre sem nenhuma, fica numa nota só
Função poética

Cálice. Chico Buarque e Milton Nascimento.

Se não conseguir  visualizar, assista no  YouTube.

função poética está  presente em todos os poemas e se dá pela ênfase na construção da mensagem: rimas, jogos de imagens e de ideias, destaque à sonoridade da combinação de palavras. A linguagem poética é essencialmente metafórica.

Na canção Cálice, de Chico Buarque, escrita  em 1973, percebemos  a função  poética em dois  aspectos:  o “cálice” pode ser considerado como  uma metáfora das dificuldades encontradas pelo eu lírico; ao  ouvir a música, no entanto,  o substantivo “cálice” dá lugar a  “cale-se”, forma imperativa do verbo “calar-se”.  Censurada pela ditadura militar, a música  só  foi gravada em 1978.

Lembrou de alguma outra canção? Comente.

Leia  mais no blog:

As funções da linguagem :   Confira o texto explicativo sobre as seis funções e respectivos elementos da comunicação.

ENEM 2017 –  Confira como esse assunto  foi  cobrado no  Exame Nacional do Ensino  Médio em 2017.

Simulado –  Funções da linguagem: Teste seus conhecimentos em questões do  ENEM.

3 Comments

  1. Meus parabéns. Muito bom e muito bem argumentado o que colocaste para todos nós e, principalmente, para os amantes da nossa língua portuguesa que chega ser como uma jóia de inestimável valor.
    A língua portuguesa está a cada dia conquistando novos admiradores graça a trabalhos, assim, como o do conversa de português.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

Artigos relacionados