Educação

Conversa com a professora Niuza Eugênia

ENTREVISTA

A primeira edição da coluna Entrevista aconteceu  em  15 de outubro de  2010,  quando foram entrevistados o professor  Robson Garcia Freire e o graduando em  Letras, Laurindo Stefanelli, como  comemoração do Dia dos professores daquele ano. Dez dias depois, publiquei a participação da professora Maria Lúcia Marangon e, em  janeiro do ano seguinte, a da professora Fátima Franco. Hoje, publico a entrevista  gentilmente concedida pela professora Niuza Eugênia, que  eu conheci  por meio do grupo de discussão Blogs Educativos.

1.       Qual é  a sua formação e há quanto  tempo está  no  magistério?

Minha formação :

1976 – Conclusão do Magistério/Ensino Médio

1982 – UFMG – Conclusão da Graduação em Letras / Francês e Literatura Francesa

1984 – UNIVERSITE DE FRANCHE – COMTE – Centre de Linguistique Appliquée de Besançon – França – Estágio Pedagógico de 28/12/1983 a   06/02/1984

1993/1994 – TREND EDUCACIONAL/RJ – Treinamento em Linguagem LOGO para atuar como professora de Informática para Ensino Fundamental

2000/2001 – UNIREDE – Curso TV ESCOLA e os Desafios de Hoje

2002 –  CEFET-MG Latu Sensu em Informática Aplicada

2004 – SEEMG- (Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais ) Curso  PROGESTÃO – Especialização em Gestão Escolar

2008 –  CEFET-MG – Stricto Sensu – Mestrado em Educação Tecnológica.

Minha experiência como professora teve início em 1978, enquanto estagiária do CENEX – FALE- UFMG.  O CENEX funciona ainda nos dias de hoje, seguindo os mesmos princípios. Os alunos do Curso de Letras passam por um exame de seleção, fazem treinamento especial para dar aulas nos cursos de idiomas oferecidos à comunidade universitária e a terceiros, quando restam vagas. Foi uma experiência maravilhosa, de grande riqueza para o crescimento profissional. Depois de formada, passei no concurso público para professora de Francês, promovido pela Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais. Atuei por 15 anos como professora de Francês para ensino fundamental (hoje 6º  e 7º anos, antigas 5ª e 6ª séries); criei o Centro de Línguas Leon Renault, que atendia não somente aos alunos, mas à comunidade escolar (pais, professores, funcionários da escola), oferecendo cursos de conversação e ainda pré-vestibular para os alunos do Ensino Médio. De 1998 a 2004, elaborei provas de francês para concurso de vestibular para Escola de Engenharia Kennedy. A partir de 2000, quando a disciplina Francês Língua Estrangeira foi excluída da grade curricular das escolas públicas de Minas Gerais, passei a atuar no Laboratório de Informática, como Coordenadora e orientadora de atividades para o Ensino Básico, Fundamental e EJA- Educação de Jovens e Adultos. Atuei também como vice-diretora em 2004 e em 2009. Ministrei cursos de formação continuada com a proposta de inserção das ferramentas tecnológicas na prática pedagógica, o que me conduziu ao Mestrado em Educação Tecnológica em 2006 e defesa de dissertação em abril de 2008. Resumindo esta trajetória então, estou há mais de 30 anos no magistério. Paralelamente a todas estas experiências, sempre atuei como professora de aulas particulares de FLE- Francês Língua Estrangeira, o que culminou em 2008 com a criação do blog Aul@ de Fr@ncês.

         2.   Antes de ser professora, exerceu alguma outra profissão?

 Não. A única coisa que faço além de dar aulas é artesanato que, às vezes, me proporciona ganhos extras, porém nada profissional.

 

3.   Por que escolheu  essa carreira? Quais eram suas expectativas sobre o magistério?

Acredito que dois motivos me levaram a escolher esta profissão e estão diretamente relacionados em primeiro lugar ao fato de gostar muito de ler, ser curiosa por saber a origem de tudo e em segundo à estrutura familiar e ao ambiente escolar de colégio de freiras, onde estudei. Posso dizer mesmo que pertenço a uma das últimas gerações em que o magistério era muito valorizado como carreira profissional para a mulher. As expectativas sempre são para além da realidade, então sempre nos decepcionamos, até porque entrei para o magistério em escola pública em uma fase de início de declínio do ensino público. Mas busquei a realização plena do meu trabalho sempre consciente de que esta carreira vai além do ensinar e aprender, está diretamente ligada à formação do indivíduo como um todo, como um ser humano. Com isso, posso dizer que sempre fui muito mais educadora do que professora de um determinado conteúdo, até porque há uma enorme carência de ensino de valores humanos, infelizmente, e não é só em escola pública não, em escolas particulares também na mesma proporção.

 4.   Em algum momento, pensou em desistir?

Sim, pensei em desistir quando não sentia meu trabalho valorizado ou reconhecido. Passei pela desagradável situação de “Professor Excedente”, nome que nas escolas da rede pública do Estado de Minas Gerais, designa o professor cujo cargo ou disciplina não faz mais parte da grade curricular, e que então, consequentemente, passam a nos atribuir tarefas inadequadas dentro do quadro de profissionais da escola. Isto de certa forma, porém, acabou me conduzindo a buscar novos horizontes até chegar ao Mestrado em Educação Tecnológica. Hoje estou vivendo meu primeiro ano de aposentadoria deste cargo de professora.

5. Qual episódio da sua carreira causou-lhe mais emoção e por quê?

Acho que vivi intensamente minha experiência no magistério. Tenho ótimas lembranças e neste momento uma em especial ressalta. Uma estagiária estava realizando uma pesquisa para o PEAS-Programa de Educação Afetivo-Sexual da Secretaria de Educação,  entre os alunos de 7ª e 8ª séries, hoje 8º e 9º anos. Dentre as perguntas que esta jovem tinha a fazer estava a seguinte: “Você confia em algum(a) de seus (suas) professores (as) para falar de assuntos ligados à sua sexualidade?”. E para minha surpresa esta estagiária me procurou dizendo que o único nome citado pelos alunos, tanto meninas quanto meninos, foi o meu. Isto me deixou emocionada porque ficou clara a relação de confiança que eu sempre me propus a manter, a relação maior  de educadora. Não é fácil para o adolescente se abrir para os adultos, somente com um vínculo forte de confiança. Isto foi marcante para mim.

6. Você escreve dois  blogs:   Informática na prática educativa e Aulas de Francês. Como e  por que surgiu  a ideia de criá-los?

 Quando entrei para o curso de pós-graduação em Informática Aplicada, um dos meus objetivos era aprender a criar um site para as aulas de Francês. Quando então me deparei com as aulas de Lógica e Noções de C++( linguagem de programação), fiquei bem desanimada porque vi o quanto era difícil e exigiria muito tempo de estudo e trabalho. No decorrer do curso tomei conhecimento de um aplicativo que já tornava esta tarefa mais fácil, o Dreamweaver que permite criar páginas na internet sem saber HTML ou outra programação. Novamente me entusiasmei e comecei então a estudar o software, vislumbrando minha página para futuras aulas de francês. O Ano era 2002 e parece que já é há muito mais de dez anos porque muita coisa mudou desde então. Acabei optando por investir no Mestrado, tão logo terminasse minha Pós. E foi então, no decorrer do curso de mestrado em Educação Tecnológica, que a WEB 2.0 iniciava sua trajetória com a criação de ambientes colaborativos como os blogs, até surgir a ferramenta que hoje utilizo o BLOGGER, disponibilizado pelo Google, gratuitamente.  Criar um blog para o ensino de uma LE (Língua Estrangeira) é o que há de melhor para o desenvolvimento das competências básicas, pela possibilidade rápida de comunicação que a Internet oferece, a ponto de até mesmo entrar em contato com um falante nativo do idioma, em tempo real. E é através da hipertextualidade que esta ferramenta se torna tão relevante, pois podemos inserir hiperlinks para diversos registros de textos tais como uma reportagem, um conto literário, uma poesia, uma informação de acontecimento cultural, uma receita culinária típica, e ainda os registros de áudio perfeitos em músicas, entrevistas, trechos de filmes e etc,  etc… Posso dizer até mesmo que o meu entusiasmo vem, de certa forma, da grande dificuldade de contato com falantes do idioma que enfrentava em minha época de estudante. O que tínhamos em termos de áudio, por exemplo, eram fitas cassete, muitas vezes com péssimas gravações. Uma correspondência demorava cerca de 15 a 20 dias para chegar, quando tentávamos nos corresponder com a Europa. Minha tarefa hoje, com o meu blog, além de publicar atividades que elaboro, é também a de pesquisar o que há de melhor disponibilizado na Internet para meus alunos/usuários. Recebo visitas também de pessoas do mundo todo. Já recebi comentários de  usuários  brasileiros que estão fora do país e necessitam aprender francês, de professores de francês de outros países – como Portugal e Espanha- , de franceses que precisam às vezes de informações sobre a língua portuguesa, de estudantes de francês da Ucrânia, do Canadá além de estudantes brasileiros de diversos estados. Considero então um reconhecimento pelo meu trabalho há 4 anos neste blog.

A criação do segundo blog surgiu a partir de um convite para dar oficinas de blog para cursos de formação continuada. Conto com um bom número de seguidores e meu público-alvo são os  professores em exercício que necessitam inserir as ferramentas tecnológicas em sua prática pedagógica.Falo ali de aplicativos, sugiro leituras e fundamentação teórica para esta prática. Entrei para o Grupo Blogs Educativos e em minha lista de blogs disponibilizo links para os blogs de colegas do grupo que têm o perfil do educador do nosso século, em minha concepção. Discuto a questão “um blog para cada professor”, como uma possibilidade de melhoria da prática pedagógica, extensão da hora-aula de 50 min , comunicação direta com os alunos, interação, colaboração, incentivo à pesquisa e até à produção de textos, vídeos para serem publicados nos blogs, enfim educação a distância.

7. Um de seus blogs é  utilizado  para o  ensino e aprendizagem  de  francês. Houve participação de  alunos  na construção  inicial do blog ou  eles apenas o utilizam  como material de consulta? 

Os alunos não participaram e nem participam da construção do blog em si. Participam em algumas propostas de atividades de produção de textos, como paródias de poesias, descrição de telas artísticas, relato de viagens turísticas que realizaram, e cujo objetivo é o desenvolvimento da competência escrita em língua estrangeira.  Sempre proponho enviarem a  produção de texto por e-mail para ser corrigida e depois discutida em sala de aula. Selecionamos uma imagem adequada do arquivo pessoal do aluno ou da internet e só então publicamos. O meu público é muito eclético e há uma grande variação de situações.

 8. A sua dissertação de  mestrado  é  sobre informática educativa. Como  foi  o  processo de escolha desse  tema? Fale-nos  um pouco  sobre a sua pesquisa. 

 Antes de entrar para o Mestrado  eu já participava de um Grupo de Pesquisa do CEFET-MG, o GEMATEC, dirigido pelo professor Dr. Ronaldo Luiz Nagem. Este é um grupo muito interessante, inédito em sua escolha de tema de discussão que é Analogias, Metáforas e Modelos na Educação, na Ciência e na Tecnologia. Foi mesmo por incentivo dos colegas do grupo que decidi tentar o Mestrado em Educação Tecnológica e como atuava no Laboratório de Informática da escola estadual onde trabalhei durante 25 anos, percebi a ligação existente entre os dois temas: ensino de informática e função cognitiva das metáforas conceptuais. Percebia que, o tempo todo que ensinava informática, recorria às analogias para explicar vários conceitos de certa forma abstratos para o aluno leigo. Percebia o quanto concepções  metafóricas facilitavam o entendimento do abstrato, a partir do momento que as desconstruía para os alunos/professores, que sempre foram meu público-alvo. Sugiro a leitura de minha dissertação que está neste link: http://www.files.scire.coppe.ufrj.br/atrio/cefet-mg-ppget_upl//THESIS/97/niuza_eugenia.pdf.

Conheça  os   blogs da professora Niuza  Eugênia

Aula de Francês

Informática na prática educativa

Leia novamente as entrevistas anteriores: 

Dia do professor e duas conversas

Conversa com a professora Maria Lúcia

Conversa com a professora Fátima  Franco

Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

Artigos relacionados