Literatura

Parnasianismo

O Parnasianismo  é  a  manifestação poética da época em que  ocorreram  o Realismo e o Naturalismo, apesar de a temática dos textos  pouco se relacionar com os outros dois movimentos  literários. O movimento teve origem na França e o nome escolhido fazia referência ao  mitológico monte  Parnaso, consagrado  a Apolo e às musas das artes. Os poetas desejavam espelhar-se nos modelos clássicos de literatura e combater a subjetividade exaltada no período romântico.

Diferentemente dos realistas e naturalistas, cuja poesia abordava a realidade e os problemas sociais, os poetas  parnasianos preocupavam-se principalmente com o “fazer poético” e a busca pela  perfeição estética.  Esta maneira distante de lidar com o mundo está presente no  lema do período:  “a arte pela arte” ou “arte sobre a arte”. Nos  textos, eram valorizados a objetividade temática, a métrica rígida, a formalidade  linguística, a descrição de objetos  banais ou elementos da natureza.

Vaso grego. A cultura  grega  influenciou a  estética parnasiana.
Vaso grego. A cultura grega influenciou a estética parnasiana.

No Brasil, a estética parnasiana permaneceu até o início do século XX, mesmo durante o período simbolista, embora os críticos marquem 1893 como data limite entre o Parnasianismo e o Simbolismo.

  • Formas poéticas tradicionais – preferência pela rima rica, versos alexandrinos, sonetos.
  • Preciosismo vocabular e purismo linguístico – uso de estruturas sintáticas elaboradas; uso da ordem inversa da oração, presente em figuras de linguagem como o hipérbato e o anacoluto.
  • Referências à mitologia greco-romana.
  • “Arte pela arte” – o assunto é menos importante do que o jeito de escrever.
  • Destaque ao erotismo e à sensualidade feminina.
  • A obra literária é resultado do trabalho do artista.
  • Aproximação entre a arte literária e as artes plásticas.
  • Descritivismo: o objeto é retratado com riqueza de detalhes.

 

Vejamos  um poema parnasiano:

 

Língua Portuguesa

Olavo  Bilac

 

Última flor do  Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro  nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos  vela…

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o  trom e o  silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em  que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em  que Camões chorou, no exílio amargo,
O  gênio sem ventura e o  amor  sem  brilho!

 

Glossário:

Ganga: resíduo, geralmente  inaproveitável.

Clangor: som estridente de alguns instrumentos de  sopro.

Trom: estrondo.

Silvo: som agudo.

Procela: tempestade marítima.

Arrolo: canto.

 

Análise do  texto:

Uma das principais características do Parnasianismo é a valorização da  forma. No soneto Língua  Portuguesa, o  poeta demonstra o  apreço  por  sua  língua materna e  a  faz  protagonista de seu  texto, o  que  pode ser  observado  pela adjetivação:  flor,  inculta,  bela, singela.  Os poetas  parnasianos veem a língua portuguesa como  um instrumento  divino  para os seus  versos e, por isso, deve ser cultuada com veemência.

Bilac usa  sua poesia para  descrever seu  entendimento  sobre a história da língua portuguesa: a chamá-la de  “última  flor do  Lácio”, faz referência ao surgimento  de nossa língua a partir do  latim  vulgar; em, “és, a um tempo, esplendor e sepultura”, utiliza  o paradoxo  para falar da expansão da  língua  e do sepultamento  metafórico da língua  latina.

 

 

Gostou  do  texto  sobre o Parnasianismo? Aproveite  e  baixe  o material com  outros  textos e lista de exercícios.  É grátis! Clique aqui. (Arquivo hospedado no OneDrive. Arquivo  em  pdf. Tamanho: 842 KB)

 

 

Leia  mais no  blog:

Paradoxo

Vicente de  Carvalho

Francisca Júlia

3 Comments

  1. Nossa, este blog é perfeito! Parabéns professora!

    Todas as suas explicações são claras e a leitura de seus textos é muito prazerosa. É impossível ler seus artigos sem saboreá-los. Sem sentir-se confortável.

    Um imenso abraço!

Comments are closed.

Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

Artigos relacionados