Dicas de livros Educação

Crônicas de escola: docência ao rés-do-chão

Eu sempre gostei de ler crônicas. Comecei a lê-las ainda no Ensino Fundamental (Eu sou da época em que isso era chamado de Primário), por meio de uma série intitulada Para gostar de ler, publicada pela Editora Ática. Foi assim que conheci autores como Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Luís Fernando Veríssimo. Como professora de Língua Portuguesa, eu as utilizo como material para as minhas aulas, mas algo inusitado aconteceu: eu fui convidada (ou seria convocada?) a escrever e publicar uma crônica.

Não sei se já contei que, há muitos anos, eu recebo estagiários da Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em determinado momento, eu cheguei a ter sete futuros colegas, ao mesmo tempo, nas minhas salas de aula. É uma loucura, mas eu realizo o meu sonho antigo de formar professores! A convite do professor Marcos Scheffell, docente da disciplina Prática de Ensino naquela universidade, eu aceitei orientar os estudantes e decidimos que faríamos um semestre letivo inteiro sobre o gênero textual crônica. Ao final do período, Marcos propôs que os professores participantes escrevessem, assim como os universitários, suas crônicas sobre Educação. Desse convite, nasceu o livro Crônicas de escola: docência ao rés-do-chão. Por que esse título?

Quem escreve o prefácio é o professor André Luís Mourão Uzeda, que referencia o ensaio “A vida ao rés-do-chão”, publicado por Antônio Candido, na década de 1980, como parte do livro Para gostar de ler: crônicas, vol. 5 (Texto que foi reproduzido em outros livros sobre o tema).

No texto original de Candido, o professor destaca que a crônica é um gênero despretensioso, próximo da realidade do escritor e do leitor:

Por meio dos assuntos, da composição aparentemente solta, do ar de coisa sem necessidade que costuma assumir, ela se ajusta à sensibilidade de todo dia. Principalmente porque elabora uma linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais natural. Na sua despretensão, humaniza; esta humanização lhe permite, como compensação sorrateira, recuperar com a outra mão uma certa profundidade de significado e um certo acabamento de forma, que de repente podem fazer dela uma inesperada embora discreta candidata à perfeição. É o que o leitor verá em muitas que compõem este volume e os que o precederam na mesma série. (CANDIDO, 1992, p. 14)

Meu processo de escrita não foi fácil. Já havia passado um mês e eu ainda não conseguira escrever uma única linha! Eu lembro de ter “pedido socorro” no grupo de professores: “Eu não consigo escrever minha crônica. Acho que estou com bloqueio criativo…”. Já que deveria ser um texto sobre experiências educacionais, consultei a minha memória. O que me era mais caro nesses mais de 30 anos de magistério? De que eu, de fato, me orgulhava nesse tempo todo? Que situação teria me dado a sensação de missão cumprida, muito bem cumprida? Bem, eu escrevi sobre isso na crônica “O shampoo e a cabine do caminhão”. Quer saber mais? Baixe agora o seu exemplar gratuito.


Referências:

CANDIDO, Antonio. A vida ao rés-do-chão. In: ____ et al. A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. São Paulo: EDUSP/Fundação Casa de Rui de Barbosa, 1992, p. 13-22.

3 Comments

  1. Ah, os textos ao rés-do-chão, assim chamados por seu teor, não são textos que se fundem, que se fixem, porque flutuam. Passam com o que ou quem os inspira, suspensos no ar pelos passar do tempo. Caminham na sala de u´a memória fugidia, que não se inala, mas é instigada pela olhar, induzida pelo perfume, incitada pela emoção. E, por estar ao rés-do-chão, é história esvoaçante, que até agrada, comove e pode bem restar emoldurada, mas, então, nas páginas de um livro, que dos tempos o costume então registram!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

Artigos relacionados