O que é um manual? Esse termo pode ser entendido como instruções de uso ou como uma publicação com ensinamentos sobre determinada área de conhecimento. Em Pequeno manual antirracista, a filósofa e ativista negra Djamila Ribeiro apresenta onze lições sobre a origem do racismo e de que maneira seria possível combatê-lo: “Informe-se sobre o racismo”, “Enxergue a negritude”, “Reconheça os privilégios da branquitude”, “Perceba o racismo internalizado em você”, “Apoie políticas educacionais afirmativas”, “Transforme seu ambiente de trabalho”, “Leia autores negros”, “Questione a cultura que você consome”, “Conheça seus desejos e afetos”, “Combata a violência racial” e “Sejamos todos antirracistas”.
Nesse livro ─ cujas referências bibliográficas incluem nomes como Angela Davis, Kabengele Munanga, Lélia Gonzalez e Neusa Santos Souza ─ a professora da USP aborda de que maneira o racismo estrutura a sociedade brasileira e quais são as suas consequências.
Movimentos de pessoas negras há anos debatem o racismo como estrutura fundamental das relações sociais, criando desigualdades e abismos. O racismo é, portanto, um sistema de opressão que nega direitos e não um simples ato da vontade de um indivíduo. Reconhecer o caráter estrutural do racismo pode ser paralisante. Afinal, como enfrentar um monstro tão grande? (p. 12)
O capítulo que mais chamou minha atenção foi “Leia autores negros”. Eu sou professora há mais de 30 anos, atuo em escola pública e sei ─ por experiência em sala de aula ─ como é difícil encontrar, no Ensino Médio, estudantes que saibam dizer, ao menos, o nome de um escritor negro ou de uma escritora negra. Conta o Machado de Assis? Não, porque esse foi apresentado ao nosso imaginário por meio de uma imagem esbranquiçada. Eu tive alunos que ficaram surpresos ao saber que o maior escritor brasileiro de todos os tempos era um homem negro nascido no Morro do Livramento. De onde vem essa ideia de que Machado era branco? O obituário que anunciou sua morte, em 1908, trazia o termo “branco”, apesar dos traços óbvios de sua ascendência africana. O que isso tem a ver com o livro de Djamila Ribeiro?
A autora, a exemplo da feminista negra Sueli Carneiro, cita o conceito de epistemicídio:
Epistemicído [é] o apagamento sistemático de produções e saberes produzidos por grupos oprimidos. […] Os sinais do apagamento da produção negra são evidentes. […]
A importância de estudar autores negros não se baseia numa visão essencialista, ou seja, na crença de que devem ser lidos apenas por serem negros. A questão é que é irrealista que numa sociedade como a nossa, de maioria negra, somente um grupo domine a formulação do saber. ” (pp. 61; 65)
O último capítulo (“Sejamos todos antirracistas”) é uma dica sobre o público a quem se destina o livro. Assim como a obra de Angela Davis, esta destaca que a luta contra o racismo não é um compromisso apenas das pessoas negras, uma vez que “pessoas brancas devem se responsabilizar criticamente pelo sistema de opressão que as privilegia historicamente, produzindo desigualdades, e pessoas negras podem se conscientizar dos processos históricos para não reproduzi-los” (p.108).
No vídeo abaixo, em entrevista a André Trigueiro, a professora Djamila Ribeiro conversa sobre racismo, lugar de fala e educação antirracista.
Além de Pequeno manual antirracista, Djamila Ribeiro é autora também de Lugar de fala (2017), Quem tem medo do feminismo negro? (2018) e Cartas para minha avó (2021).
Ficha técnica
Autora: Djamila Ribeiro
Editora: Companhia das Letras
Dimensões: 15.6 x 10.8 x 1.4 cm
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Já irei buscar o livro para adquiri-lo. Gostei muito da tua resenha, Andreá. Abraços!
Muito obrigada, Lucas. Tenho certeza de que você gostará dessa leitura.