Dia desses, comentei com uma aluna que ela poderia, em um parágrafo muito longo, usar travessões em função análoga à da vírgula e à dos parênteses. A estudante mostrou-se bastante surpresa com a minha orientação e disse conhecer apenas o uso para indicar falas em um texto literário. Você já conhece as possibilidades de uso desse sinal de pontuação ou também se surpreenderia com a minha dica?
Observe o texto abaixo, extraído do conto “Um homem célebre”, de Machado de Assis:
─ Ah! O SENHOR que é o Pestana? perguntou Sinhazinha Mota, fazendo um largo gesto admirativo. E logo depois, corrigindo a familiaridade: ─ Desculpe meu modo, mas… é mesmo o senhor? (ASSIS, 1997, p. 39)
O trecho acima é uma transcrição do primeiro parágrafo do conto machadiano e corresponde à primeira fala de um diálogo entre os personagens. Indicar falas, em um texto literário, é o uso mais corriqueiro que se dá aos travessões, mas não é o único.
Confira dois outros usos do travessão:
1) Emprega-se para indicar, nos diálogos, a mudança de interlocutor, com ou sem aspas:
Vestidos, caxemiras, joias eram vendidas com uma rapidez inacreditável. Nada daquilo me convinha, e eu continuava esperando.
De repente, ouvi gritarem:
─ Um volume lindamente encadernado, dorso dourado, intitulado Manon Lescaut*.
(DUMAS, 2008, p. 28)
2) Usa-se para marcar uma pausa mais forte:
“… e se estabelece uma cousa que poderemos chamar ─ solidariedade do aborrecimento humano” (ASSIS, M. apud BECHARA, 2009, p. 612)
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*Nota: Manon Lescaut (pronuncia-se “Manon Lescô”) é uma obra escrita pelo Abade Prévost, em 1731, e transformada em ópera por Giacomo Puccini em 1893.
Referências:
ASSIS, Machado de. Um homem célebre. Várias histórias. São Paulo: Globo, 1997
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009
DUMAS FILHO, Alexandre. A dama das camélias. São Paulo: Martin Claret, 2008