Um dos maiores desafios de um graduando em Licenciatura é saber articular a teoria aprendida ao longo de toda a grade curricular com a prática docente. São muitas questões a serem respondidas: Como aplicar as críticas à Gramática Tradicional às aulas de gramática sem que vire uma aula de graduação? Como ensinar literatura saindo do padrão que vemos nas nossas salas de aula? Como incentivar meu aluno da educação básica a produzir literatura se na graduação não aprendi isso? E como ensinar meu aluno a produzir gêneros textuais variados se as aulas se resumem, muitas vezes, à exposição de conceitos?
O processo de ensino-aprendizagem costuma ser muito mais complexo do que simplesmente abrir um livro didático e pedir para que o aluno leia o texto e faça os exercícios. Na aula de Língua Portuguesa, o ideal seria fomentar no aluno a capacidade de perceber que a língua que ele fala é utilizada para diversos fins sociais, a depender da situação comunicativa inserida, do seu interlocutor e de outros fatores que ultrapassam as barreiras do que é linguístico
A grande sacada de Crônicas de Escola é mostrar a pluralidade de percepções sobre o universo escolar e o ensino. As narrativas nos apresentam o conhecido. A escola é um espaço comum a grande parte da população e se torna fácil reconhecer ao longo das linhas o que está sendo falado, mesmo que a inspiração para a crônica seja de uma escola na Zona Norte e nunca tivermos ido lá.
O livro apresenta três núcleos temáticos (o cotidiano escolar,a formação escolar e questões de ensino) e as crônicas produzidas pelos próprios alunos de Licenciatura em Português – Literaturas da UFRJ tratam diversos temas relacionados ao que a escola e a formação de uma professora ou professor oferece como matéria para reflexão. Estórias que vão desde o primeiro dia de aula até o ensino de dever de casa atravessam o dia a dia de todos e fazem com que haja identificação da nossa parte.
É interessante salientar que o livro de crônicas nasceu de uma sequência didática, na qual se pensava sobre como ensinar o gênero crônica na sala de aula, de modo que o professor apresentasse o gênero e incentivasse os alunos a o produzirem. As licenciandas e os licenciandos experenciaram a própria sequência didática que poderiam levar para a escola.
No que tange ao processo de escrita propriamente dito, é relevante enxergar que a escrita é de fato um processo, que pressupõe escrita, reescrita, revisão, leitura de terceiros. Nem sempre a escola com sua grade curricular oferece essa possibilidade, de um trabalho mais longo sobre um determinado conteúdo,mas é crucial olhar para a Educação como espaço de transformação e compartilhamento de saberes e experiências. Torna-se imprescindível que o ensino vire algo significativo para o aluno e que ele reconheça que a escola e o conhecimento não são partes descoladas da sociedade , mas sim potenciais agentes de mudança dela .
SCHEFFEL, Marcos et al. Crônicas de escola. São João de Meriti: Desalinho, 2019.
Graziele Soares é aluna do Mestrado em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e é a nova colunista do Conversa de Português. Aqui no blog Conversa de Português, ela já colaborou com os textos Gente nova no Conversa: a Grazi chegou e Código do amor cortês na sala de aula.
Olá,
Pode me dizer por onde posso adquirir esse livro?
SCHEFFEL, Marcos et al. Crônicas de escola. São João de Meriti: Desalinho, 2019.
Juliana, eu conheço o autor. Assim que ele me responder, enviarei a resposta pelo e-mail que você usou para postar o comentário.