Literatura

Um pouco mais de Romantismo

O  texto de hoje é  continuação da resposta publicada  para a leitora T. Costa que nos solicitara algumas  dicas  sobre o  Romantismo  na Literatura. O  assunto é  extenso e eu decidi  escrever mais de um artigo.

Algumas características ilustram  bem o espírito romântico:

1. Individualismo  e  subjetividade.

O romântico é  individualista. O  mundo  é apresentado através da personalidade do eu-lírico.  O  artista   valoriza  a paixão, a  intuição, a liberdade pessoal  e interior, a melancolia.

Desânimo

Álvares de Azevedo

Estou agora triste. Há nesta vida
Páginas torvas que se não apagam,
Nódoas que não se lavam… se esquecê-las
De todo não é dado a quem padece…
Ao menos resta ao sonhador consolo
No imaginar dos sonhos de mancebo!

Oh! voltai uma vez! eu sofro tanto!
Meus sonhos, consolai-me! distraí-me!
Anjos das ilusões, as asas brancas
As névoas puras, que outro sol matiza.
Abri ante meus olhos que abraseiam
E lágrimas não tem que a dor do peito
Transbordem um momento…

E tu, imagem,
Ilusão de mulher, querido sonho,
Na hora derradeira, vem sentar-te,
Pensativa e saudosa no meu leito!
O que sofres? que dor desconhecida
Inunda de palor teu rosto virgem?
Por que tu’alma dobra taciturna,
Como um lírio a um bafo d’infortúnio?
Por que tão melancólica suspiras?

Misticismo

O indivíduo busca explicações  além do catecismo cristão , a fim de explicar  seus  dilemas  existenciais.

Escapismo

É o desejo romântico de  afastar-se da realidade para  um mundo idealizado.  Esta característica   já  estava  presente no Neoclassicismo sob o  rótulo de fugere urbem, porém, naquele momento literário, o poeta  utilizava imagens  campestres para representar a fuga da realidade. No Romantismo, o escapismo  pode  ser representado  pela loucura, pelo  sonho, pela imaginação, a  morte ou a fuga no  tempo (lembranças infantis, passado histórico, especialmente a Idade  Média).

Reformismo

O espírito romântico é  revolucionário. Autores românticos, como Castro Alves, engajaram-se em movimentos libertários  e democráticos.

A cruz na estrada

Castro Alves

Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.

Que vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.

É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.

Não precisa de ti. O gaturamo
Geme, por ele, à tarde, no sertão.
E a juriti, do taquaral no ramo,
Povoa, soluçando, a solidão.

Dentre os braços da cruz, a parasita,
Num abraço de flores, se prendeu.
Chora orvalhos a grama, que palpita;
Lhe acende o vaga-lume o facho seu.

Quando, à noite, o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus.
Prende-se a voz na boca das cascatas,
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.

Caminheiro! do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.

Culto da natureza

Durante o Neoclassicismo, a natureza  era cenário; no  Romantismo, será  a representação dos sentimentos  do eu poético

Nacionalismo

A literatura romântica europeia mostrava  a decadência dos governos  absolutistas enquanto a literatura feita no Brasil  mostrava  o desejo de  independência da colônia e propunha a construção de identidade  nacional.

Idealização do amor e da imagem do herói

O  amor romântico é apresentado como remédio para os males da alma, ao mesmo  tempo em  que   também  é causador da  melancolia do amante.  O herói é  dotado de   virtudes físicas  e  morais que  o fazem ser digno de sua  amada. A dama é representada  pela   figura da mulher  impossível (imagem emprestada das cantigas trovadorescas).

 
 
Fontes de  pesquisa:
AZEVEDO, Álvares de. Desânimo. Disponível em: <http://www.revista.agulha.nom.br/avz2.html#desanimo> Acesso em 7/08/2010.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 33.ed. São Paulo: Cultrix, 1999.
COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil.16.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.

1 Comment

  1. Ah, amei essa parte aqui também.
    Se fosse possível, queria um pouco mais da sua explicação sobre essas três fases do romantismo aqui no Brasil.
    A 1° era a super valorização da terra.
    A 2°, era conhecido com mal do século, pela melancolia e tal;
    A 3°, eles buscavam uma libertação para a sociedade. Eles começaram a pensar mais no social.
    É isso?
    Beijos

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Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

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