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Contos tradicionais do Brasil

 

 Luís  da  Câmara Cascudo foi professor da  Universidade Federal do Rio  Grande do  Norte e  é  um importante  pesquisador  do  folclore  brasileiro. Sua  obra é  composta por   192  livros de acordo com  o site  Memória  Viva.  Em Contos  Tradicionais do  Brasil, publicado  pela  Editora Global,  é  possível  ler  alguns dos contos  reunidos pelo  estudioso.

A primeira edição da obra foi   publicada em  1946 pela  Ediouro, como  parte integrante da Coleção  Joaquim  Nabuco. No prefácio, o  escritor  explica as razões de  sua pesquisa, as características do  conto  popular  e a estrutura dada ao  livro.

O  conto  popular  revela informação histórica, etnográfica, sociológica, jurídica, social. É um documento vivo, denunciando costumes, ideias, mentalidades, decisões  e julgamentos.

Para  nós  é o primeiro leite intelectual.  Os primeiros heróis, as primeiras cismas, os primeiros sonhos, os movimentos de  solidariedade, amor, ódio, compaixão vêm com  as  histórias fabulosas ouvidas  na  infância. A  mãe preta  foi  a  Sherazade humilde das  dez mil noites, sem prêmios e sem  conssagrações. Quanto  lhe ouvimos contar, segue, lentamente, ao  nosso  lado, emergindo nas   horas tranquilas e  raras de alegria  serena. […]

É preciso que o conto  seja velho  na memória do  povo, anônimo em  sua autoria, divulgado em seu  conhecimento e persistente nos  repertórios orais. Que seja omisso nos nomes próprios, localizações geográficas e datas  fixadoras do caso no  tempo.

De sua antiguidade, atestam detalhes do ambiente, armas, frases, hábitos desaparecidos. Raro  é  o conto  que fala de armas de fogo. Falam sempre de carruagem, espada,  transportes a cavalo, reclusão  feminina, autoridade paterna, absolutismo  real. (CASCUDO, 2004,p.12-13)

Câmara Cascudo, portanto,  adota quatro  critérios como características do  conto popular: antiguidade, anonimato, divulgação  e persistência.  Interessantes  são  os dados trazidos pelo autor como confirmação da antiguidade do  texto:  o  cabelo solto das donzelas,  já que as casadas costumavam  mostrar os cabelos  apenas a seus  maridos; a roupa branca do  rei,  cor que foi  símbolo do  luto  até  o  século  XVI; a coabitação  prévia, costumes na Irlanda e  na  Holanda, durante a Idade Média (o noivo  visitava  a  noiva à  noite e entrava no  leito em que ela estava); a criança  rejeitada , posteriormente adotada pelo  caçador.

Nesta  obra,  Cascudo  dividiu  os contos brasileiros em doze categorias: contos de encantamento, contos de  exemplo, contos de animais, facécias, contos religiosos, contos etiológicos,  demônio logrado, contos de  adivinhação, natureza denunciante, contos acumulativos, ciclo da morte e  tradição.  O  autor deixa claro  que   não ousou falar sobre a origem de cada um dos contos  publicados, nem sobre sua  interpretação, o que  faria  posteriormente em outra obra.  Sobre o  termo  “tradicionais” o  autor diz que

[…] pareceu lógico, porque esses cem contos estão vivos, trazidos de  geração em  geração, na oralidade popular. Alguns, retirados de coleções impressas, com as precisas indicações  bibliográficas, pertencem  fielmente à mesma estirpe.  (CASCUDO, 2004,p.12-13)

Ficaram de  fora do  livro os contos  sem-fim, os trava-línguas e as  anedotas tradicionais;  sem dúvida,  o  livro  é   uma fonte  rica de pesquisa para os estudiosos da cultura  popular  brasileira.

Leia  também no  blog:

Contos  e lendas afro-brasileiras

Atualização em  21/03/2015:  Você  leu  algum   livro interessante e  gostaria de  sugerir?  Participe da  nossa coluna O LEITOR  INDICA!

Referências bibliográficas:

CASCUDO, Luís da Câmara. Contos  Tradicionais do  Brasil. 13.ed. São Paulo: Global, 2004, 318 p.

Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

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