As figuras de linguagem são um tópico recorrente nos principais vestibulares e no Exame Nacional do Ensino Médio não seria diferente. Neste texto da série ENEM 2016 – Questões comentadas, os leitores lerão os meus comentários acerca das questões 97 e 135. Para isso, utilizei o caderno CINZA como referência para o gabarito.
QUESTÃO 97
O nome do inseto pirilampo (vaga-lume) tem uma interessante certidão de nascimento. De repente, no fim do século XVII, os poetas de Lisboa repararam que não podiam cantar o inseto luminoso, apesar de ele ser um manancial de metáforas, pois possuía um nome “indecoroso” que não podia ser “usado em papéis sérios”: caga-lume. Foi então que o dicionarista Raphael Bluteau inventou a nova palavra, pirilampo, a partir do grego pyr, significando “fogo”, e lampas, “candeia”.
(FERREIRA, M.B. Caminhos do português: exposição comemorativa do ano europeu das línguas. Portugal: Biblioteca Nacional, 2001)
O texto descreve a mudança ocorrida na nomeação do inseto, por questões de tabu linguístico. Esse tabu diz respeito à
(A) recuperação histórica do significado.
(B) ampliação do sentido de uma palavra.
(C) produção imprópria de poetas portugueses.
(D) denominação científica com base em termos gregos.
(E) restrição ao uso de um vocábulo pouco aceito socialmente.
Gabarito oficial: E
Comentário:
O candidato deve observar que a banca, ao utilizar a expressão “tabu linguístico” no enunciado e “vocábulo pouco aceito socialmente” em uma das alternativas, aborda uma das figuras de linguagem: o eufemismo. Esse recurso linguístico tem por objetivo suavizar uma mensagem que pode ser vista como desagradável.
Um outro ponto que aparece na questão – ainda que muito sutilmente – é a variação histórica da língua portuguesa. Toda língua natural modifica-se com o tempo: mudam o modo de falar, a maneira de estruturar as frases, o vocabulário e, muitas vezes, o significado das palavras.
QUESTÃO 135
Em casa, Hideo ainda podia seguir fiel ao imperador japonês e às tradições que trouxera no navio que aportara em Santos. […] Por isso Hideo exigia que, aos domingos, todos estivessem juntos durante o almoço. Ele se sentava à cabeceira da mesa; à direita, ficava Hanashiro, que era o primeiro filho, e Hitoshi, o segundo, e à esquerda, Haruo, depois Hiroshi, que era o mais novo. […] A esposa, que também era mãe, e as filhas que também eram irmãs, aguardavam de pé ao redor da mesa […]. Haruo reclamava, não se cansava de reclamar: que se sentassem também as mulheres à mesa, que era um absurdo aquele costume. Quando se casasse, se sentariam à mesa a esposa e o marido, um em frente ao outro, porque não era o homem melhor do que a mulher para ser o primeiro […]. Elas seguiam de pé, a mãe um pouco cansada dos protestos do filho, pois o momento do almoço era sagrado, não era hora de levantar bandeiras inúteis […].
(NAKASATO, O. Nihonjin. São Paulo: Benvirá, 2011)
Referindo-se a práticas culturais de origem nipônica, o narrador registra as reações que elas provocam na família e mostra um contexto em que
(A) a obediência ao imperador leva ao prestígio pessoal.
(B) as novas gerações abandonam seus antigos hábitos.
(C) a refeição é o que determina a agregação familiar.
(D) os conflitos de gênero tendem a ser neutralizados.
(E) o lugar à mesa metaforiza as relações de poder.
Gabarito: E
Comentário:
De acordo com a narrativa, na sociedade japonesa, mulheres exercem função social inferior à dos homens. Isso é demonstrado por meio da descrição de uma cena em que o pai e os filhos fazem a refeição primeiro.
A metáfora é uma figura de linguagem descrita nas gramáticas como a “transferência de um termo para uma esfera de significação que não é a sua, em virtude de uma comparação implícita”. O fragmento apresentado na questão apresenta metaforicamente, simbolicamente as relações de poder entre homens e mulheres naquela cultura.
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