Os meus leitores mais assíduos sabem que atuo há anos no Ensino Médio, embora já tenha passado um bom tempo em cursos de graduação. Em 2016, recebi turmas do primeiro e do segundo anos do EM e, em uma delas, o ensino de produção textual destaca dois gêneros: o resumo e o fichamento. Sobre o primeiro, foram publicados alguns textos aqui no CP, mas eu ainda não havia feito nenhum comentário acerca do segundo. Nesta edição da coluna Sala de Aula, mostrarei como ensinei esse recurso aos meus alunos.
Na turma do primeiro ano, eu combinei esse gênero com os tópicos Expansão da língua portuguesa e Formação do português brasileiro, que integram o programa de estudos dos alunos em questão. Como material de leitura, eu dei aos alunos o artigos intitulado “Das esquadras de Cabral aos cinco continentes” e “O jeitinho brasileiro de falar português”, ambos publicados pela Revista EntreLivros – Especial Línguas. Apesar de serem textos publicados há bastante tempo, eu os usei porque demonstram claramente como a expansão linguística resultou da expansão marítima e como as línguas indígenas e africanas interferiram na mudança de nosso idioma.
Como complementação para a leitura dos artigos, os alunos também assistiram ao documentário “Língua: vidas em português”, cujos protagonistas são moradores dos oito países onde a língua portuguesa é a oficial e também brasileiros radicados no Japão. Na aula do dia 01 de junho, eu mostrei como fichar os dois textos. Nosso trabalho deu-se com base em três perguntas: Para que serve? O que é? Quais os elementos básicos?
Para que serve um fichamento?
O fichamento é uma maneira de armazenar informações relevantes acerca de um material bibliográfico. Ele pode conter um resumo da obra lida, citações, dados de publicação, onde o livro foi encontrado. Garcia (2010) sugere até a leitura do índice geral e do índice remissivo para se ter uma ideia do conteúdo do livro (p. 346). Para que os alunos compreendem-se sua função, eu lancei a seguinte pergunta: “O que vocês fazem quando vão à biblioteca e descobrem que o livro desejado não está disponível para empréstimo?”. Inicialmente, os meninos ficaram parados me olhando, com uma carinha de quem nunca havia pensado nisso; depois, deram-me respostas diversas. Um deles disse ficar na biblioteca estudando o tal livro. Perguntei outra coisa: “Mas e se você não tiver tempo pra ficar lá o dia todo? Que tal aprender um dos jeitos de anotar as informações mais importantes?”.
Quais são os tipos de fichamento?
Existem diferentes tipos de fichamento. Veja a descrição de alguns:
Catalogação bibliográfica
Aquele tipo encontrado no verso da folha de rosto dos livros. Ela indica os dados básicos da obra, código de registro (ISBN), palavras-chave e código de catalogação para a biblioteca. Nas bibliotecas, também são usadas as fichas de assunto e título de obra. O estudante pode consultar essa ficha e dela transcrever algumas informações sobre a obra.
Citação
É o tipo de fichamento em que o estudante transcreve literalmente alguns trechos do texto original. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) determina que a transcrição direta de até três linhas deve ser colocada entre aspas duplas e ser seguida, pelo menos, da página onde se encontra. Quando a citação ultrapassar as três linhas, deverá ser feita com um recuo de 4 cm da margem esquerda. Esse é um dado importante para a formatação de trabalhos acadêmicos quando utilizamos o Word, por exemplo. Se o objetivo for apenas guardar informações sobre um texto, não será necessário.
Resumo
É o tipo em que o estudante apresenta as principais ideias do texto sem copiar nenhum trecho. Já explicamos aqui no blog que um bom leitor demonstra a sua compreensão geral do texto lido quando é capaz de resumi-lo com suas próprias palavras e demonstramos a técnica de sumarização.
Quais são os elementos básicos de um fichamento?
O trabalho de fichar um texto é precedido de uma leitura atenta do texto e “compreende: capacidade de analisar o texto, separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros, e competência para resumir as ideias do texto” (MEDEIROS, 2006, p. 111).
Eu entreguei a cada aluno duas fichas (Usei aquelas tradicionais, vendidas em qualquer papelaria, no tamanho 127mm X 203,2 mm). No quadro, eu desenhei uma ficha igual e pedi que identificassem alguns elementos: título, autor, fonte da publicação, número de páginas. Assim, mostrei aos alunos a estrutura básica de um fichamento:
- Cabeçalho
- Referência bibliográfica
- Texto
- Local onde se encontra a obra
Mostrei aos alunos como registrar os dados bibliográficos do artigo e expliquei que isso é feito de acordo com normas (Normas Brasileiras de Referência – NBR) estabelecidas pela ABNT. Pedi que relessem rapidamente o artigo “Das esquadras de Cabral…” e elaborassem um fichamento de citação, com base no que haviam acabado de aprender. Veja abaixo um exemplo feito a partir do texto lido pela turma:
Clique na imagem para ampliar.
Como tarefa de casa, solicitei que fizessem trabalho semelhante com o texto “Jeitinho brasileiro de falar português” e “Estrangeirismos: antropofagia brasileira”. Avisei que iria dificultar um pouco a tarefa: eles deveriam fazer um resumo no verso da ficha. Desse modo, fariam também um fichamento de resumo. Veja um modelo feito a partir do mesmo texto usado no exemplo anterior:
Clique na imagem para ampliar.
O modelo aqui apresentado não é o único possível e o uso das fichas não substitui o estudo tradicional. O estudante deve lembrar que o fichamento é apenas um recurso para organizar as ideias e o material de pesquisa.
Leia mais no blog:
Como fazer um resumo? Aprenda a sumarizar.
Referências:
GUIMARÃES, E. R. J. Língua portuguesa: das esquadras de Cabral aos cinco continentes. Revista EntreLivros – Especial Línguas. São Paulo: Duetto, vol. 4, jan. 2006, p. 68-71
MEDEIROS, J.B. Fichamento. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 110-131.
ZILLES, A. M. S. O jeitinho brasileiro de falar português. Revista Biblioteca EntreLivros- Línguas. São Paulo: Duetto, vol. 4, jan. 2006, p. 72-75.
Olá, excelente atividade. Onde encontro os textos utilizados (1) das esquadras de Cabral…, (2) Jeitinho brasileiro de falar português e (3) Estrangeirismos: antropofagia brasileira para baixar?
Oi, Camila! Obrigada pela visita ao blog Conversa de Português!
Como indiquei nas referências, esses artigos foram publicados em revistas físicas. A minha publicação é de junho de 2016 e não sei dizer se é possível encontrá-los nos sites das revistas.