No dia 31 de março, eu publiquei, na coluna Sala de Aula, a descrição de uma atividade sobre figuras de linguagem, realizada com minha turma do primeiro ano do Ensino Médio. Ontem, 27 de abril, fizemos um exercício de revisão daquele assunto e o aproveitamos para refletir sobre as relações trabalhistas – uma antecipação do Dia do Trabalho, que será celebrado no próximo domingo.
Acompanhe a sequência de nossa aula:
1. Os alunos receberam cópias das canções Operário em construção, de Vinícius de Moraes, e Construção, interpretada por Zé Ramalho.
2. Para acompanhar a leitura dos textos, assistimos aos vídeos disponibilizados no site YouTube.
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3. Após ler e ouvir os textos, eu e os alunos debatemos sobre o conteúdo de cada um deles: O que aconteceu no primeiro texto? O que significa ser um operário em construção? E o segundo texto: qual é a principal queixa do operário?
Nesse ponto da aula, os alunos perceberam que os textos abordam as relações trabalhistas e o preconceito com as classes operárias. A turma considerou que todo o primeiro texto era uma metáfora sobre a tomada de consciência de um operário explorado por seu patrão.
Uma vez que os alunos deram essa resposta, eu os questionei a respeito de algumas datas comemorativas, como o Dia Internacional da Mulher (8 de março) e Dia do Trabalho (1 de maio ). Eu queria saber se eles conheciam as razões pelas quais essas datas foram instituídas: um dos alunos lembrou que o Dia da Mulher fora criado como uma homenagem às mulheres queimadas em uma fábrica em 1911. Sobre o 1 de maio, comentei que também está relacionado a um confronto entre operários e policiais em Chicago no ano 1886. Os meninos concluíram que não são, portanto, datas festivas.
4. A última parte da aula consistiu em procurar nos dois textos as figuras de linguagem que eles estudaram, não com o propósito de decorar conceitos ou nomenclaturas, mas perceber como são utilizadas na construção do sentido do texto. Destaco algumas das considerações feitas pelos alunos durante a leitura de Operário em construção:
Metonímia. Os alunos consideraram que o operário descrito em todo o poema não é um indivíduo, mas, sim, uma representação da classe operária na luta por seus direitos: um operário (singular) simboliza todos os outros (plural). Também identificaram o mesmo recurso linguístico nos versos
E assim o operário ia
com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
adiante um apartamento
[…]
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram de dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Gradação. A turma percebeu que o texto mostra gradativamente a evolução do operário, desde o momento em que percebe o seu papel social até o final do texto quando, pode-se supor que ele foi morto. A mesma figura também aparece em versos isolados como, por exemplo, os transcritos abaixo:
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela,
Casa, cidade, nação!
Eufemismo. O poema contém diversos trechos em que essa figura de linguagem – cuja característica é amenizar uma informação desagradável -, mas os estudantes ficaram mais sensibilizados com a possível morte por tortura do operário, o que é apresentado nos versos finais do poema.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E grito de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Um operário construído
O operário em construção.
Também assistimos ao vídeo da canção Cidadão e pedi que realizassem a mesma tarefa em casa:
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Leia também no blog:
Sala de aula: Figuras de linguagem
Operário em construção – nossa análise
Veja também o simulado sobre figuras de linguagem: