Hoje, 12 de janeiro, celebra-se o aniversário de Charles Perrault. Sua história está relacionada ao início da produção literária para criança: em 1697, o escritor publicou o conjunto de oito contos de fadas intitulado Contos da Mãe Gansa.
A famosa coletânea reúne textos recolhidos da tradição oral: A Bela Adormecida no Bosque; Chapeuzinho Vermelho; O Barba Azul; O Gato de Botas; As Fadas; Cinderella ou a Gata Borralheira; Henrique do Topete e O Pequeno Polegar. O autor, que já era um advogado importante na sociedade francesa, atribuiu a autoria da coletânea a seu filho adolescente Pierre e dedicou-a ao rei da França, que ainda era uma criança e, por isso, chamado de Delfim. Agrado semelhante ao rei fizera antes La Fontaine (outro autor importante para a história da literatura infantil), que traduzira e adaptara as fábulas de Esopo. Por essa razão, há quem pense que as fábulas gregas são textos infantis.
Os contos de fadas são textos de natureza ética, existencial e espiritual. Sua origem remonta ao povo celta e os textos retratam a história de heróis e heroínas, em narrativas ligadas ao sobrenatural e visavam à realização interior do ser humano. São aquelas narrativas em que o protagonista busca a realização de um sonho e alcançá-lo depende de algo sobrenatural. Em Cinderella ou a Gata Borralheira, a personagem principal – humilhada pela madrasta e as irmãs – deseja ardentemente ir ao baile no palácio do rei e isso só é possível com a ajuda da fada madrinha. Como expliquei no texto O que são contos de fadas, às fadas costuma-se atribuir qualidades positivas e dons sobrenaturais, capazes de interferir na vida dos homens e ajudá-los em situações extremas.
Embora o texto Barba Azul seja conhecido como um conto de fadas, é possível classifica-lo como um conto maravlhoso, gênero cujas raízes vêm do Oriente e seu enredo, geralmente, está relacionado à realização socioeconômica do protagonista. Como demonstra Nelly Novaes Coelho (2008), o conto sobre o terrível rei que matava suas esposas teria sua origem na lenda grega do tesouro de Ixion, rei da Tessália. O rei mitológico desposara Dia e lhe prometera diversos presentes. Após o casamento, a esposa cobrou as promessas ao marido e ele, enraivecido, atirou-a em um buraco com carvões acesos.
No conto de Charles Perrault, Barba Azul é um nobre violento e de aparência assustadora. Um grande mistério envolvia sua vida: casara-se seis vezes, mas as esposas sempre desapareciam e eram dadas como mortas pelo marido. Para se casar pela sétima vez, o nobre escolhe a caçula de um dos seus vizinhos. Pouco tempo depois, o nobre avisa sobre uma viagem e deixa a jovem e curiosa esposa como guardiã de um quarto que jamais deveria ser aberto. Tomada pela curiosidade, a mocinha abre a porta e encontra os cadáveres das outras esposas.
O nosso leitor pode estranhar o desfecho violento do conto de Charles Perrault, visto que diversas versões dos contos de fada mostram tais narrativas como histórias originalmente infantis. Lembramos que o escritor recolheu e adaptou os textos que já estavam presentes na tradição oral e cujos desfechos eram violentos. No século XX, os textos foram adaptados por editoras, produtoras de cinema e teatro de modo a parecerem um pouco mais adequados ao público infantil.
Sugestão:
É difícil encontrar o livro Contos da mãe gansa na maior parte das livrarias, mas a versão digital é oferecida no site da Livraria Saraiva (http://oferta.vc/oSl4 ).
Referência bibliográfica:
COELHO, N. N. O conto de fadas: símbolos, mitos, arquétipos. São Paulo: Paulinas, 2008, p. 45
muito bom, obrigado por compartilhar!