Começamos, em 22 de novembro, a nossa série de textos com os comentários sobre as questões do ENEM 2014. Hoje analisamos aquelas cujo tema eram as variedades linguísticas. A estrutura de apresentação é a seguinte: apresentação da questão, competência e habilidade correspondente da matriz de referência do INEP, gabarito oficial, comentário e link para estudos. Utilizamos o caderno rosa como referência.
QUESTÃO 100
Óia eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo pra xaxar
Vou mostrar pr’esses cabras
Que eu ainda dou no couro
Isso é um desaforo
Que eu não posso levar
Que eu aqui de novo cantando
Que eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo mostrando
Como se deve xaxar.
Vem cá morena linda
Vestida de chita
Você é a mais bonita
Desse meu lugar
Vai, chama Maria, chama Luzia
Vai, chama Zabé, chama Raque
Diz que tou aqui com alegria.
(BARROS, A. Óia eu aqui de novo. Disponível em <www.luizluagonzaga.mus.br > Acesso em 5 mai 2013)
A letra da canção de Antônio Barros manifesta aspectos do repertório linguístico e cultural do Brasil. O verso que singulariza uma forma do falar popular regional é
(A) “Isso é um desaforo”
(B) “Diz que eu tou aqui com alegria”
(C) “Vou mostrar pr’esses cabras”
(D) “Vai, chama Maria, chama Luzia”
(E) “Vem cá, morena linda, vestida de chita”
Gabarito oficial: C
Competência: Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade.
Habilidade: Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
Comentário: Todo o texto é construído a partir de uma determinada variedade linguística, representada por expressões típicas da linguagem oral, como podemos observar em “óia” (olha), “Diz que tou” (Diga que estou). O candidato deve, no entanto, atentar para o fato de a questão privilegiar a identificação de vocabulário regional e não apenas variações fonéticas; é o que se identifica no verso “Vou mostrar pr’esses cabras”, em que “cabras” – típico do falar de algumas localidades do Nordeste – substitui “homens” ou “pessoas”.
QUESTÃO 116
Só há uma saída para a escola se ela quiser ser mais bem-sucedida: aceitar a mudança da língua como um fato. Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer forma de língua em suas atividades escritas? Não deve mais corrigir? Não!
Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no mundo real da escrita, não existe apenas um português correto, que valeria para todas as ocasiões: o estilo dos contratos não é o mesmo dos manuais de instrução; o dos juízes do Supremo não é o mesmo dos cordelistas; o dos editoriais dos jornais não é o mesmo dos dos cadernos de cultura dos mesmos jornais. Ou do de seus colunistas.
(POSSENTI, S. Gramática na cabeça. Língua Portuguesa, ano 5, n. 67, maio 2011 – adaptado).
Sírio Possenti defende a tese de que não existe um único “português correto”. Assim sendo, o domínio da língua portuguesa implica, entre outras coisas, saber
(A) descartar as marcas de informalidade do texto.
(B) reservar o emprego da norma padrão aos textos de circulação ampla.
(C) moldar a norma padrão do português pela linguagem do discurso jornalístico.
(D) adequar as formas da língua a diferentes tipos de texto e contexto.
(E) desprezar as formas da língua previstas pelas gramáticas e manuais divulgados pela escola.
Gabarito oficial: D
Competência: Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade.
Habilidades:
H26 – Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 – Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Comentário: Esse assunto costuma ser abordado pelos programas do primeiro ano do Ensino Médio. A banca exige que o candidato reflita sobre os conceitos de erro e acerto sob o ponto de vista da Sociolinguística e o candidato deve lembrar-se do que aprendeu acerca de adequação linguística.
QUESTÃO 128
Em bom português
No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria que a gente é apanhada (aliás, não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso.
Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os que falam assim:
– Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saber dizer que viram um filme que trabalha muito bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher.
(SABINO, F. Folha de S. Paulo, 13 abr. 1984)
A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica essa característica da língua, evidenciando que
(A) o uso de palavras novas deve ser incentivado em detrimento das antigas.
(B) a utilização de inovações do léxico é percebida na comparação de gerações.
(C) o emprego de palavras com sentidos diferentes caracteriza diversidade geográfica.
(D) a pronúncia e o vocabulário são aspectos identificadores da classe social a que pertence o falante.
(E) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas as regiões.
Gabarito oficial: B
Competência: Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade.
Habilidade:
H25 – Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
Comentário: Apesar do que informa a alternativa dada como correta pelo INEP (organizador do Exame), o texto não apresenta um confronto explícito entre gerações. O candidato deve inferir tal situação a partir da informação dada na primeira frase do texto: “No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas”. A elaboração das alternativas mostra ao estudante que o conteúdo cobrado são as variações diatópicas, diastráticas e diafásicas.
Diatópicas (variações geográficas) são as diferenças observadas na comparação entre regiões e dizem respeito tanto em relação ao significado das palavras quanto à sintaxe.
Diastráticas são as diferenças observadas nos grupos sociais e estão relacionadas à faixa etária, profissão, nível de escolaridade, estrato social.
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