Como já explicamos em outro texto, metalinguagem é a função da linguagem caracterizada pela descrição sobre a própria linguagem. Assim, assim, temos um programa de televisão realizado para falar das produções naquele meio de comunicação ou, como no caso dos estudos linguísticos, texto que se destine a explicações sobre fatos da língua. A literatura também utiliza esse recurso a fim de criar efeitos de sentido.
O poeta João Cabral de Melo Neto utilizou a metalinguagem ao escrever o poema Catar feijão. O autor aborda uma das principais características do texto verbal – a escolha de palavras – e o faz por meio de uma comparação entre a escolha de grãos e a escrita:
1.
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
2.
Ora, nesse catar feijão, entra um risco:
o de entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quanto ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.
(NETO, João Cabral de Melo. Obra Completa. Rio de Janeiro:Nova Aguilar, 1999.)
O grupo Palavra Cantada também utilizou metalinguagem para elaborar a canção Gramática:
O substantivo
É o substituto do conteúdo
O adjetivo
É a nossa impressão sobre quase tudo
O diminutivo
É o que aperta o mundo
E deixa miúdo
O imperativo
É o que aperta os outros e deixa mudo
Um homem de letras
Dizendo idéias
Sempre se imflama
Um homem de idéias
Nem usa letras
Faz ideograma
Se altera as letras
E esconde o nome
Faz anagrama
Mas se mostro o nome
Com poucas letras
É um telegrama
Nosso verbo ser
É uma identidade
Mas sem projeto
E se temos verbo
Com objeto
É bem mais direto
No entanto falta
Ter um sujeito
Pra ter afeto
Mas se é um sujeito
Que se sujeita
Ainda é objeto
Todo barbarismo
É o português
Que se repeliu
O neologismo
É uma palavra
Que não se ouviu
Já o idiotismo
É tudo que a língua
Não traduziu
Mas tem idiotismo
Também na fala
De um imbecil
Observe que as estrofes iniciais podem ser associadas a uma aula de Língua Portuguesa ou a uma gramática, como expressa o título. Vejamos alguns trechos e como os mesmos conceitos são apresentados nos livros didáticos:
Observe que não apenas a língua portuguesa é contemplada pela canção:
Embora Catar feijão e Gramática sejam textos que abordem, respectivamente, o processo de escrita e os conceitos gramaticais, podemos notar que ambos não têm a objetividade dos textos científicos. Sua característica é privilegiar a expressividade dos textos poéticos.
Assista ao vídeo Gramática, com o grupo Palavra Cantada:
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Leia mais no blog:
João Cabral de Melo Neto – Terceira Geração Modernista
Referências:
TERRA. E; NICOLA, J. Português – de olho no mundo do trabalho. São Paulo: Scipione, 2004.
TUFANO, D. ; SARMENTO, L. Literatura, Gramática, Produção de Texto. São Paulo: Moderna, 2004.
Andréa, um ótimo 2014 pra você também.
Que ele seja repleto de realizações, amiga.
Um grande beijo!
Obrigada, Lúcia! Tudo de bom pra você!
e muito interessante essas aula.