Em 22 de setembro, publiquei o texto África na escola, em que relatava minha visita ao Museu Odé Gbomi e à Pedra do Sal com alguns de meus alunos do Ensino Médio. Essas visitas fazem parte de um projeto implementado pela instituição onde trabalho, que visa a cumprir o que determina a Lei Nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003 (“a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira”). Eu saí novamente com a turma no dia 19 de outubro; fomos ao IPN – Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos.
A idade média dos alunos é 15 anos. Nessa idade, o poder de síntese é impressionante (às vezes, irritante). No dia do passeio, os alunos teriam aula de Filosofia e resolveram contar ao professor da disciplina sobre a atividade que faríamos: “A gente foi a uma pedra aí, a um centro de macumba e agora vamos a um cemitério”. Eu precisei esclarecer: eles conheceram a região do Valongo, onde os escravos eram vendidos; foram ao Museu Odé Gbomi, um centro de arte africana e iriam aos Pretos Novos, instituto construído sobre um cemitério de pretos.
O historiador responsável pelo IPN acompanhou-nos durante a viagem até o instituto. No ônibus, conversou com os alunos sobre a história do negro no Brasil; retomou a história da Pedra do Sal, que os meninos já conheciam; falou um pouco sobre a proibição do comércio de escravos em 1831. Não sentimos o tempo passar e nem nos demos conta do engarrafamento que enfrentamos na ida para o IPN.
Quando chegamos ao Instituto, não achamos o cemitério, mas uma casa simples na rua Pedro Ernesto, 36, no bairro da Gamboa – centro histórico do Rio de Janeiro. Durante o século XIX, aquela região era conhecida como Pequena África, por nela existir a maior concentração de africanos fora da África. A casa fora comprada, em 1996, por dona Ana Maria de la Merced G.G.G. dos Anjos e seu marido, Petrucio Guimarães dos Anjos. As casas no Centro são grandes e a intenção do casal era reformar o imóvel para morar com a família. Um dia, os operários telefonaram para dizer que encontraram coisas estranhas no subsolo. Quando o casal chegou, descobriu que haviam descoberto uma grande quantidade de ossos. Foi descoberto, então, o Cemitério dos Pretos Novos, cuja localização exata ninguém mais conhecia.
Naquele cemitério, entre 1824 e 1830, foram enterrados 6.122 negros recém-chegados da África (por isso pretos novos), falecidos durante o período de quarentena, logo após o desembarque. Os que morriam durante a viagem, eram descartados no mar, a fim de se evitar a contaminação do resto da carga.
Durante a visita, os alunos puderam conversar com o historiador responsável pelo IPN, a dona da casa e o arqueólogo responsável pelas escavações. Eles aprenderam que o subsolo é propriedade da União, portanto nada do que foi encontrado na casa pode ser vendido – além das ossadas, foram encontradas cerâmicas europeias e indígenas. Na primeira aula após o passeio, fizemos um grande debate sobre todas as saídas que fizemos e uso como resumo do nosso debate a frase de uma das alunas: “Eu entendi que eu fui lá para aprender a cultura do outro”.
Para conhecer a história e o trabalho do IPN, visite o site. Clique AQUI.
Confira a localização no mapa:
Observação: Texto atualizado em 18/01/ 2020 para inserir o documentário Programa Campus – Cemitério dos Pretos Novos e o mapa de localização.