Publiquei , no dia 1 de setembro de 2010, o texto Presidenta? , que tivera como inspiração a maneira como a candidata à presidência da república, Dilma Rousseff, preferia ser chamada. Naquele texto, eu abordava a definição gramatical do substantivo presidente : substantivo comum de dois gêneros, ou seja, uma única forma para o masculino e o feminino.
Presidente.s.2g. Quem dirige os trabalhos em um congresso, assembleia, tribunal etc. 2.título oficial do chefe de governo no regime presidencialista.
Hoje, meu amigo Laurindo Stefanelli encaminhou-me um texto cujo tema era o uso do vocábulo presidenta em textos oficiais. O autor da mensagem original argumentava que a forma presidenta é incorreta, pois, originalmente, o sufixo –ente serve para “designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo”. De fato, os sufixos –ante, –ente e –inte indicam gramaticalmente aqueles que realizam ações no momento presente: estudante (aquele que estuda), amante (aquele que ama), presidente (aquele que preside), pedinte (aquele que pede).
Chamou-me atenção o texto escrito pelo Laurindo – estudante de Letras – como observação ao texto original e cujo teor nada tem político, mas demonstra já ter aprendido que a língua portuguesa é construída todos os dias:
Durante séculos, as mulheres viveram à sombra dos homens. Agora as coisas começam gradativamente a mudar. Quando uma mulher chega ao cargo máximo de um país e esta diz que prefere ser chamada de presidentA, tenha certeza, ela não está sendo fresca ou autoritária. Muito pelo contrário, está dizendo silenciosamente: “Chegamos e exigimos respeito. Chegamos e estamos aqui para provar que toda a discriminação porque passamos até hoje foi injusta. Chegamos para mostrar que somos tão capazes quanto os homens. Chegamos e isto tem que ficar bem claro para todos. Chegamos para mostrar que somos iguais.”Ora, qual é o lugar onde a discriminação é mais explícita senão na linguagem? No momento em que Dilma diz que quer ser chamada de presidentA está desafiando exatamente esse poder estabelecido ao qual dificilmente entendemos: a linguagem é o maior poder que alguém pode ter. Pense se não é verdade. Palavras geram guerras e não armas.A língua é viva! Se não o fosse, ainda estaríamos falando em Latim. A língua, a cada novo estudo linguístico, torna-se mais social.