Os primeiros textos escritos no Brasil retratavam a instauração do processo colonial e eram relatos de viajantes e missionários europeus sobre a natureza e o indígena brasileiro. Não se pode chamar tais escritos de textos literários, pois seu objetivo era relatar com objetividade aquilo que os exploradores encontravam por aqui, o que, por muito tempo, deixou textos preciosos longe dos manuais de literatura. O mais célebre relato sobre o Brasil é, sem dúvida, a Carta de Pero Vaz de Caminha.
A Carta, assinada em 1 de maio de 1500, informa ao Rei D. Manoel os detalhes da viagem desde a partida de Belém, em 9 de março. O escrivão fala sobre as belezas naturais, a nudez dos nativos, a celebração da primeira missa e os degredados deixados aqui.
Senhor,
Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escreveram a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, quer ora nesta navegação se achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que – para bem contar e falar – o saiba pior que os outros fazer.Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem por certo, para aformosear nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu.A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, 9 de março. Sábado, 14 do dito mês, entre as oito e nove horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grã- Canária, e ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas.
E domingo, 22 do dia mês, às dez horas, pouco mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, ou melhor, da ilha de S. Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto.
Em outro trecho, o escrivão conta ao rei o nome escolhido para a nova terra:
E assim, seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram vinte e um dias de abril, estando da dita ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo de asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos as aves a que chamam fura-buxos.
Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte mui alto e redondo; e doutas serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte o capitão pôs nome , o MONTE PASCOAL e à terra, a TERRA DE VERA CRUZ. E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos direitos à terra, indo os navios pequenos diante […] até meia légua da terra, onde todos lançamos âncoras em frente à boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas pouco mais ou menos.
Além da Carta, são célebres também os seguintes textos sobre o Brasil “recém-achado”: Diário de Navegação, de Pero Lopes, escrivão do grupo de Martim Afonso de Sousa (1530); Tratado da Terra do Brasil e História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil, de Pero Magalhães Gândavo (1576); Narrativa Epistolar e o Tratado da Terra e da Gente do Brasil, escrito pelo jesuíta Fernão Cardim (1583); Diálogos das Grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão (1618); o Diálogo da Conversão dos Gentios, Padre Manoel da Nóbrega; História do Brasil, do Frei Vicente de Salvador (1627).
Os textos de informação ou literatura de viagens (como depois foram chamados) são importantes relatos que oferecem ao historiador uma abundante documentação. Para a literatura, os textos de informação deram origem ao gênero literário a que chamamos crônica (aquela que lemos como entretenimento, embora tenha origem histórica).
Em 1418, motivado pela expansão marítima e desejoso de organizar os relatos sobre a história de Portugal, o rei D.Duarte contratou Fernão Lopes, que passou a organizar as Crônicas de D.Pedro I, D. Fernando e de D. João I. Entre outros episódios, Lopes registrou o Cerco de Lisboa e o Levantamento de Lisboa contra Castela. Fernão Lopes tornava-se, assim, o cronista-mor de Portugal.
Com o passar do tempo, a crônica perdeu seu caráter histórico e ganhou status de arte literária. Os textos deixaram de ser a memória histórica da nação e passaram a ocupar os folhetins. Publicadas em jornais, as crônicas do século XIX eram textos para leitura rápida e reflexo da vida cotidiana – característica que chegou ao século XXI.