Pronominais
Oswald de Andrade
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
Oswald de Andrade escreveu o texto “Pronominais “ na década de 20, durante o auge do movimento modernista brasileiro. Um dos objetivos do movimento era demonstrar o quão distante a língua oral estava da norma culta, assim como a língua falada no Brasil já estava distante daquela falada em Portugal. Este texto é um dos mais usados nos livros didáticos quando o assunto é colocação pronominal. Nesta semana, recebi de leitores do Conversa de Português duas perguntas referentes a este assunto; sendo assim, responderei ambas em uma série de dois artigos, a fim de que o texto não fique excessivamente longo.
Quando falamos em colocação pronominal, referimo-nos à posição dos pronomes pessoais na frase e estes estão divididos em dois grupos, que nos interessam : retos (eu, tu , ele, nós, vós, eles) e oblíquos átonos (me, nos, te, vos, se, o, a , lhe). Os primeiros exercem a função de sujeito da frase enquanto os demais são usados como complementos dos verbos. Dependendo da organização dos enunciados, estes pronomes podem ocupar três posições na frase:
Próclise. Pronome antes do verbo. Exemplo: Amanhã te verei no trabalho.
Mesóclise. Pronome no meio do verbo. Exemplo: Ver-te-ei amanhã no trabalho.
Ênclise. Pronome depois do verbo. Exemplo: Vejo-te no trabalho.
A dúvida enviada pelos leitores é exatamente esta: quando cada colocação desta deve ser seguida? Há duas orientações práticas que não devem ser esquecidas:
1) Não se inicia, principalmente na língua escrita, oração com pronome átono. Exemplo : Dirigiu-se ao garçom, pediu-lhe o menu, fez-lhe o pedido.
2) O uso da próclise é sempre correto, desde que antes do verbo, não haja pausa (silêncio na fala; pontuação, na escrita). Exemplo: Quem lhe deu meu telefone?
Há construções , no entanto, que obrigam o uso destas colocações . Vejamos…
Quando a próclise (pronome antes do verbo) é obrigatória? Quando for antecedido por um dos tipo de palavras a seguir:
- palavras negativas de qualquer classe gramatical (não, nunca, nem, ninguém, jamais etc) : Nunca nos falamos.
- advérbios ( lá, aqui, ali, hoje, ontem , talvez, muito etc): Hoje te vi na praça.
- pronomes relativos (que, qual, onde etc): Aceite a sugestão que lhe dei.
- pronomes indefinidos (alguém, tudo, nada, algum etc): Alguém me procurou?
- pronomes demonstrativos (isso, esse, aquele, aquilo etc) : Isso te pertence?
Quando a próclise é opcional?
- Quando o verbo não iniciar oração ( uma frase que contém verbo) e não houver palavra que force o uso da próclise. Exemplo: O povo se organizou. / O povo organizou-se.
- Com preposição ou palavra negativa acompanhada de verbo no infinitivo. Exemplo: Ele voltou para nos ajudar / Voltou para ajudar-nos. Espero não o atrapalhar / Espero não atrapalhá-lo.
Eu havia decidido publicar as perguntas dos leitores apenas em artigos semanais; no entanto, contrariando a minha expectativa (graças a Deus!), eu já tenho um bom número de perguntas a serem respondidas. Amanhã, dia 23 de novembro, publicarei o restante da explicação sobre colocação pronominal.
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olá professora, gostaria de saber qual a frase correta: A chuva não a atrapalhou, ou A chuva não lhe atrapalhou, o pronome a ser utilizado é o LHE ou o A?
Luiz, como você pode ter observado no texto, LHE e A exercem a função de complementos verbais. São objetos diretos os pronomes átonos O, A, OS e AS ; os outros pronomes átonos exercem a função de objetos indiretos. Deste modo, quem vai definir que pronome usar é a regência do verbo que você usar; no exemplo enviado por você, temos um verbo transitivo direto. A forma correta de sua frase é “A chave não a atrapalhou”.
grato.
Sem sombra de dúvidas, este é um dos sites mais completos que já encontrei. Obrigada pela ajuda e continuem fazendo este trabalho tão maravilhoso.
Muito obrigado!
O seu leitor aqui agradece e aguarda ansiosamente a sequela 🙂