Alguns dos tópicos recorrentes nos programas para concurso público – qualquer concurso! -são coesão e coerência textuais. Muita gente acha que basta eliminar um “quê” ali e outro aqui e surge um texto coeso e coerente; no entanto, não é bem assim! Coesão e coerência dependem de diversos fatores gramaticais e também das relações de sentido entre os enunciados. Hoje, veremos a confusão que uma conjunção mal utilizada pode causar em um texto!
Há alguns dias, os jornais noticiaram a recuperação do piloto de Fórmula I, Michael Schumacher, em coma desde o acidente gravíssimo sofrido em 29 de dezembro de 2013. Um dos indícios de sua recuperação era o fato de já demonstrar ouvir e reconhecer a voz de sua esposa. Uma das consequências de sua internação prolongada foi a perda de 20 dos 75 kg que pesava antes do acidente. E foi exatamente ao juntar as duas informações que alguém confundiu a cabeça do leitor. Veja o que encontramos “por aí”:
A conjunção MAS é uma coordenativa. O que quer dizer isso? Significa que liga duas orações independentes sintaticamente (Conceito discutido por muitos teóricos, mas essa “briga” não é tema do nosso texto!). É como se pudéssemos transformar o texto acima em duas frases “Schumacher perdeu 20kg. Schumacher responde à mulher.” Perder peso e responder à voz da esposa são fatos que não se complementam e, principalmente, não se excluem! Perceberam que são duas informações independentes?
MAS é uma conjunção coordenativa adversativa; ou seja, relaciona pensamentos contrastantes. Do jeito que nosso exemplo foi escrito, parece que a perda de peso impediria a outra ação! Então, alguém que perdeu peso não poderia reconhecer uma voz (Sim, é isto que está escrito no texto e, certamente, não era o que o redator daquela manchete pretendia dizer!). Cunha e Cintra (2008) lembram-nos de, além da ideia de contraste, essa conjunção pode indicar outros valores como restrição, retificação, atenuação ou compensação e até mesmo adição. Vejamos alguns exemplos:
- Restrição: Queria ir à festa, mas tinha outro compromisso.
- Retificação: Conheço Pedro não de hoje, mas de muito tempo!
- Atenuação ou compensação: “Vinha um pouco transtornado, mas dissimulava, afetando sossego e até alegria” (Machado de Assis, apud Cunha e Cintra)
- Adição: Era bela, mas principalmente rara.
Será que o redator pretendia usar o último valor de nossa lista? Será que pretendeu estabelecer uma relação de adição? Se foi isso, não o fez com muito sucesso! Vejamos o que encontrei no site de uma de nossas principais revistas:
Observe que, desta vez, o redator preferiu a conjunção coordenativa aditiva E, cuja função é ligar dois termos ou orações de idêntica função, acrescentando uma ideia à outra. É possível observar que foram dadas informações independentes sobre o estado do piloto. Texto claro, objetivo, coeso e coerente!
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Amei os esclarecimentos.