Ontem, 29 de janeiro de 2013, publiquei um resumo de minha aula sobre a terceira geração modernista. Eu e os alunos assistimos a uma animação da obra Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, e debatemos alguns trechos do poema. Observamos a maneira como 0 escritor utilizara questões como a imigração, a morte provocada por luta pela terra, a desnutrição e a miséria dos migrados para Recife. Destaquei que o texto de Cabral é muito utilizado em concursos públicos e no Exame Nacional do Ensino Médio, como ocorreu na prova de 2011.
TEXTO I
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias
mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias ?
(NETO, J.C. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994 [fragmento])
Texto II
João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que, como o Capibaribe, também segue no caminho do Recife. A autoapresentação do personagem, na fala inicial do texto, nos mostra um Severino que, quanto mais se define, menos se individualiza, pois seus traços biográficos são partilhados por outros homens.
(SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999)
Com base no trecho de Morte e vida Severina (texto I) e na análise crítica (texto II) observa-se que a relação entre o texto poético e o contexto social a que ele faz referência aponta para um problema social expresso literariamente pela pergunta: “Como então dizer quem fala / ora a Vossas Senhorias?”. A resposta à pergunta expressa no poema é dada por meio da
(A) descrição minuciosa dos dados biográficos do personagem-narrador.
(B) construção da figura do retirante nordestino.
(C) representação, na figura do personagem-narrador, de outros Severinos que compartilham sua condição.
(D) apresentação do personagem-narrador como uma projeção do próprio poeta, em sua crise existencial.
(E) descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulha-se de ser descendente do coronel Zacarias.
Gabarito e comentário:
Letra C. O personagem principal representa diversos nordestinos que passaram por situação semelhante à sua. Falta-lhe um sobrenome que o individualize (“Meu nome é Severino, /não tenho outro de pia”). A expressão “de pia” remete à ideia de batismo ou de registro civil e o Severino não tem nada que o destaque na multidão de “muitos Severinos”: “Como então dizer quem fala/ ora a Vossas Senhorias?”
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