Romance de 30 foi a denominação usada como referência a um conjunto de obras publicadas a partir de 1928 – ano da primeira edição de A bagaceira, de José Américo de Almeida. Deste grupo fazem parte Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, José Lins do Rego, Raquel de Queiroz, Jorge Amado e outros que produziram obras de ficção cujo tema era a vida agrária. Os autores do período foram classificados como romancistas de 30 ou neo-regionalistas.
José Hildebrando Dacanal(2001) afirma que o termo neo-regionalista “indica a existência de autores regionalistas no século 19”, caso em que estariam inseridos Bernardo Guimarães, Franklin Távora, Oliveira Paica, cujas obras também abordavam a temática agrária. O estudioso cita outros escritores que também produziram durante a década de 1930, porém seus livros não continham o tema mais comum do período: Octávio Faria, Jorge de Lima, Lúcio Cardoso, Guilhermino Cesar, entre outros. Ele critica, ainda, o conceito arbitrário de romance de 30 (“denominação dada – não se sabe quando nem por quem”) e aponta escritores que produziram no período, mas continuaram sua obra até 1980 com a inserção da temática urbana em seus textos, como é o caso de Jorge Amado.
Uma das características do romance de 30 é a verosimilhança; ou seja, o fato narrado é semelhante à realidade. A história narrada poderia ter acontecido no mundo real. Hildebrando diz que “não há quebra de leis físicas ou biológicas, não há intervenção de forças divinas ou diabólicas”. A estrutura narrativa é linear; os fatos narrados aparecem em uma sequência cronológica, embora em algumas obras como São Bernardo e Fogo Morto a linearidade seja rompida.
Do ponto de vista linguístico, narrador e personagens representam falam o português dos centros urbanos, mesmo quando – no caso dos personagens – utilizam expressões que remetam aos grupos rurais. Há pouco estranhamento por parte do leitor, uma vez que o narrador utiliza a variante de prestígio e apenas personagens secundários utilizam a linguagem de menor prestígio social. É nesse período que os autores registram melhor a diversidade da língua portuguesa no Brasil.
No romance de 30, as personagens são integrantes de estruturas sociais perfeitamente identificáveis; assim, tais estruturas serão aceitas ou as personagens lutarão para transformá-las. No romance do século 19, era preciso interpretar o texto para reconhecer os padrões culturais e sociais abordados; no romance de 30, eles estão abordados explicitamente. Em Capitães da Areia, publicado por Jorge Amado em 1937, encontramos uma narrativa de denúncia social: são abordadas questões como a diferença de classe, injustiças sociais, miséria, o sincretismo religioso e o problema grave dos meninos de rua em Salvador.
É aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia: Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus cinco anos. Hoje tem quinze anos. Há dez que vagabundeia nas ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer a cidade. […]
Todos reconheceram os direitos de Pedro Bala à chefia, e foi desta época que a cidade começou a ouvir falar nos Capitães da Areia, crianças abandonadas que viviam do furto. Nunca ninguém soube o número exato de meninos que assim viviam. Eram bem uns cem e destes mais de quarenta dormiam nas ruínas do velho trapiche. (AMADO, 2009, p. 26-27)
Em O quinze, publicado por Raquel de Queiroz em 1930, temos a observação realista da seca que assolou o Nordeste em 1915. A narrativa traz a caracterização psicológica dos personagens e o embate do homem com o ambiente onde vive. 1915 foi também o ano em que o presidente Hermes da Fonseca reestruturou o Instituto de Obras contra as Secas, que ficou responsável por construir açudes para a região.
Em Vidas Secas, Graciliano Ramos explora a migração de uma família que tenta fugir da seca nordestina. Nesse romance, a seca não é apenas o pretexto para a abordagem social; ela é o tema da obra. A seca é vista como um elemento que desestabiliza a vida da família de Fabiano. Do ponto de vista linguístico, temos uma narrativa estruturada em discurso indireto livre, utilização de poucos adjetivos, frases curtas, predomínio de orações coordenadas.
Irritou-se. Por que seria que aquele safado batia os dentes como um caititu? Não via que ele era incapaz de vingar-se? Não via? Fechou a cara. A ideia do perigo ia-se sumindo. Que perigo? Contra aquilo nem precisava facão, bastavam as unhas. […]
Fabiano pregou nele os olhos ensanguentados, meteu o facão na bainha. Podia matá-lo com as unhas. Lembrou-se da surra que levara e da noite passada na cadeia. Sim senhor. Aquilo ganhava dinheiro para maltratar as criaturas inofensivas. Estava certo? (RAMOS, p. 2009, p. 65)
Historicamente, podemos situar o romance de 30 com os acontecimentos da quebra da Bolsa de Nova York, o Estado Novo de Getúlio Vargas, o período entre guerras, enfraquecimento da política “café-com-leite”, desenvolvimento da indústria brasileira.
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Referências:
AMADO, J. Capitães da areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
DACANAL, J.H. Romance de 30. 3.ed. Porto Alegre: Novo Século, 2001.
Exposição do assunto muito boa, obrigada pela partilha de conhecimento!
Sinara, muito obrigada pela visita e pelo comentário. Volte sempre!
Quais sao os Aspectos religiosos da década de 30?
Muito bem lembrado professora essas datas, ficou marcada como um começo de uma vida sofirda das pessoas mais velhas, uma história marcantes e de grande luta
Nossa..Obg ANDRÉA MOTTA clariou minhas duvidas sob o assunto!