O Pré-Modernismo aconteceu no período de 1902 a 1922 e seu marco inicial foi a publicação da obra Os sertões, de Euclides da Cunha. Alceu de Amoroso Lima foi o primeiro a usar a expressão pré-modernismo às obras publicadas naquele período, fato que só ocorreu em 1939 com a publicação de Contribuição à História do Modernismo. A literatura que antecedeu a Semana de 22 pouco tinha de inovadora. A crítica rotulava os poucos autores que surgiam de “neos” – neoparnasianos, neossimbolistas e neorromanticos. Os romances de Lima Barreto e Graça Aranha e os ensaios sociais de Euclides da Cunha deram o tom da literatura brasileira nas duas primeiras décadas do século XX.
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em Cantagalo (RJ) em 1866 e faleceu, na capital fluminense em 1909, após ser baleado por Dilermando de Assis. Como defensor confesso da República, foi expulso do Exército após ter lançado ao longe o sabre de cadete diante do Ministro da Guerra, que visitava a Escola Militar no Rio de Janeiro. Escapou de ser julgado perante o Conselho de Guerra devido ao perdão concedido por D. Pedro II.
Em 1892, formou-se engenheiro militar pela Escola Superior de Guerra. Após a formatura, passou a trabalhar na Estrada de Ferro Central do Brasil. Em 1897, passou a contribuir com o jornal O Estado, para o qual escreveu artigos sobre Anchieta e alguns comentários sobre a Guerra de Canudos. Alguns meses depois, o jornal mandou-o a Canudos para acompanhar as campanhas do Exército contra os conselheiristas. Euclides permaneceu na Bahia de agosto a outubro de 1897 e lá mesmo pôs-se a escrever sua obra-prima, Os sertões, que rendeu ao escritor uma vaga no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e na Academia Brasileira de Letras.
Em Os sertões, Euclides faz uma descrição minuciosa da região do conflito, a vida do homem sertanejo e da luta ali travada. O professor Antônio Candido, citado por Alfredo Bosi, afirma que o livro estava entre “a literatura e a sociologia”. No texto Vida e obra de Euclides da Cunha, o professor Carlos Alberto Iannone escreveu que
Os sertões é um ensaio histórico e sociológico em que Euclides da Cunha denuncia a existência, no Brasil da época, de um litoral civilizado e de um sertão bravio em plena fase colonial, ambos em conflito. O assunto do livro gira em torno da campanha militar movida pelas tropas do governo republicano (representam o Brasil litorâneo), contra os fanáticos seguidores de Antônio Conselheiro (representam o Brasil do sertão), em Canudos, na Bahia. […] Os sertões pode ser considerado um verdadeiro poema épico em prosa, não só por seu estilo, em que se sobressaem antíteses, hipérboles, elipses, polissíndetos, imagens contrastantes, abundantes superlativos, farta adjetivação, mas também pela movimentação das massas e pelo “sentido heroico da luta dos jagunços contra os fatores adversos, o fatalismo mesológico e a injustiça social”.
A obra-prima de Euclides foi organizada em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. Na primeira, o escritor dedicou-se a detalhar o caminho para Monte Santo, o clima, as hipóteses sobre a gênese da seca; na segunda, ele expôs o que chamou de “problema etnológico do Brasil”, a formação das raças, a gênese dos jagunços, a função histórica do rio São Francisco, as causas favoráveis à mestiçagem nos sertões, o papel de Antônio Conselheiro na Guerra de Canudos, os agrupamentos religiosos; por fim, na terceira parte, escreveu com detalhes sobre os confrontos entre conselheiristas e republicanos.
Quando se tornou urgente pacificar o sertão de Canudos, o governo da Bahia estava a braços com outras insurreições. A cidade de Lençóis fora investida por atrevida malta de facínoras, e as suas incursões alastravam-se pelas Lavras Diamantinas; o povoado de Brito Mendes caíra às mãos de outros turbulentos; e em Jequié se cometiam toda a sorte de atentados. (CUNHA, 1973, p.13)
Encontrei, no YouTube, um interessante documentário sobre a Guerra de Canudos, tema do livro de Euclides da Cunha. Paixão e Guerra no Sertão de Canudos conta a história de Antônio Conselheiro desde o seu nascimento no Ceará até sua morte no sertão da Bahia, durante a Guerra de Canudos. Assistir ao filme ajuda-nos a compreender porque Conselheiro conseguiu reunir tanta gente ao seu lado na luta contra a República.
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Referências:
BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 33. ed. São Paulo: Cultrix, 1999. p. 311.
CUNHA, E. Os sertões. Rio de Janeiro: Três, 1973. (Obras imortais da nossa literatura).
IANNONE, C.A. A vida de Euclides da Cunha. In: CUNHA, E. Os sertões. Rio de Janeiro: Três, 1973. p. 9-15. (Obras imortais da nossa literatura).
Muito bom!