A palavra fábula chegou à língua portuguesa por meio do latim e do grego (lat. fari, falar; greg. phaó, dizer, contar algo). Fábulas são as narrativas que contam situações vividas por animais em alusão a uma situação humana e cujo objetivo é a transmissão de certa moralidade.
As fábulas têm sua origem nas narrativas orais do Oriente, mas foram reinventadas pelo grego Esopo no século VI a.C. No século I a.C., foram aperfeiçoadas e enriquecidas pelo escravo romano Fedro. No século XVI, o italiano Leonardo Da Vinci redescobriu o estilo e registrou narrativas de origem italiana, mas seu trabalho não obteve sucesso e permaneceu desconhecido por séculos. Em 1668, o francês Jean de La Fontaine escreveu uma coleção de doze volumes dedicada ao Delfim da França e, em cujas páginas, explica um pouco sobre esse tipo de narrativa:
[…] Platão, tendo banido Homero de sua república, deu a Esopo um lugar bastante honroso. Ele deseja que as crianças suguem essas fábulas como o leite; recomenda às amas para ensiná-las, pois nunca é cedo para se acostumar à sabedoria e à virtude. […] Elas não são apenas morais, fornecem ainda outros conhecimentos: as propriedades dos animais e seus diversos caracteres aí estão expressos; por conseguinte, os nossos também, pois que somos o resumo do que existe de bom e de mau nas criaturas irracionais. Quando Prometeu quis formar o homem, ele aprendeu a qualidade dominante de cada animal: dessas peças tão diferentes compôs nossa espécie, fez este trabalho que se chama Pequeno Mundo. Assim essas fábulas são um quadro onde cada um de nós se encontra pintado. O que elas nos apresentam confirmam as pessoas de idade avançada nos conhecimentos que a experiência lhes deu e ensina às crianças o que é preciso que saibam. (LA FONTAINE, 2007, p.37-38)
O Delfim a quem a obra foi dedicada era Luís de França, chamado O Grande Delfim e Monsenhor, filho de Luís XIV e de Maria Tereza, nascido em Fointainebleu em 1661 e falecido em 1711. Tinha apenas seis anos quando a coleção de La Fontaine começou a ser publicada.
Vejamos uma das fábulas:
A lebre e a tartaruga
(Tradução de Curvo Semedo)
“Apostemos, disse à lebre
A tartaruga matreira,
Que eu chego primeiro ao alvo
Do que tu, que és tão ligeira!”
Dado o sinal de partida,
Estando as duas a par,
A tartaruga começa
Lentamente a caminhar.
A lebre, tendo vergonha
De correr diante dela,
Tratando uma tal vitória
De peta ou de bagatela,
Deita-se e dorme o seu pouco;
Ergue-se e põe-se a observar
De que parte corre o vento,
E depois entra a pastar;
Eis deita uma vista d’olhos
Sobre a caminhante sorna,
Inda a vê longe da meta,
E a pastar de novo torna.
Olha, e depois que a vê perto,
Começa a sua carreira;
Mas então apressa os passos
A tartaruga matreira.
À meta chega primeiro,
Apanha o prêmio apressada,
Pregando à lebre vencida
Uma grande surriada.
Não basta só haver posses
Para obter o que intentamos;
É preciso pôr-lhes meios,
Quando não, atrás ficamos.
O contentador não desprezes
Por fraco , se te investir;
Porque um anão acordado
Mata um gigante a dormir.
Leia também no blog:
Literatura infantil e as fábulas
Sobre o autor – Jean de La Fontaine
Fonte de pesquisa:
COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil – Teoria, análise, didática. 7.ed. São Paulo: Moderna, 2000.
LA FONTAINE, Fábulas. São Paulo: Martin Claret, 2007.
odeei,nao leem as perguntas!