Zezinho é um excelente aluno e todos os professores o amam. Joãozinho é péssimo; dizem até que é daqueles que não querem nada. Pedrinho fica, como falam por aí, no meio termo.
Zezinho é um exemplo, um doce de menino. Fala pouco. Senta-se na primeira fileira. Quase não conversa. Seu caderno é o mais organizado da turma (verdadeira transcrição dos espirros de seus professores). Seu pescoço é feito de mola; a cabeça fica soltinha, soltinha em um “sim “ incessante.
Joãozinho é indisciplinado. Senta-se lá no fundão, com o corpo meio virado de lado. Anota pouco e ainda ousa debater com o professor. Seu pescoço parece um parafuso em um “não” constante. Quando o parafuso aperta, ele pergunta “Por que?”, “Explique outra vez!”, “Não me convenceu!”. Definitivamente, alguém precisa chamar os pais desse menino!
O Pedrinho é amigo dos outros dois. Quando falta à aula, procura o Zezinho e pede os cadernos emprestados. Geralmente, manda o Joãozinho calar a boca, pois é impossível ouvir o professor com todo aquele falatório. No fundo, ele sabe que o João é um cara legal, apesar daquele jeitão de rebelde sem causa.
O Zezinho é a jóia da escola, sonho de consumo de todo educador. O professor diz “A Terra é roxa” e o Zé pergunta “Roxo claro ou escuro, professor?”. O Joãozinho, aquele demônio, indaga: “Tá louco, cara? A Terra não é azul?”. O Pedrinho, sempre polido, sugere: ”Professor, será que o senhor não se equivocou? Eu sempre pensei que a Terra fosse azul…” É, se o Pedrinho continuar andando com o Joãozinho, logo, logo estará igual. Vamos chamar os pais do Pedrinho também, cortar o mal pela raiz. Esse menino poderia ir longe se seguisse o exemplo do Zezinho.
Os meninos deste texto são os nossos alunos de todo dia: o que não ousa questionar, (“professor falou, deve estar certo”); aquele outro que dá um trabalhão, por sua indisciplina intelectual (“Essa cara aí pensa que é Deus?”) e o outro, o ponto de equilíbrio (“O professor falou, mas ele não é Deus e, por isso, erra como todo mundo!). O problema da Educação é que nós, professores, não sabemos lidar com o aluno-joãozinho e ficamos incomodados com o aluno-pedrinho. Nossa postura profissional quase sempre é produto de uma cultura em que o professor manda, o aluno obedece e ninguém conversa. É mais fácil lidar com o aluno conformado – eu ouso dizer que SÓ é fácil lidar com esse tipo, pois todos os outros demandam um trabalho de educação.
Será que estamos prontos para o “mau aluno”? Estamos prontos para o Joãozinho? Educar não é transformar o aluno em depósito de conteúdos. O bom aluno não é apenas aquele que entra mudo, sai calado e cujo caderno é lindo (pode ser este também). Talvez o meu melhor aluno seja aquele sempre atento, porém questionador. Talvez ele atrapalhe a aula com suas indagações. Talvez ele me faça notar que estou longe de ser Deus.
*Texto originalmente publicado em meu blog Educação pela Rede.
Atualização em 28/07/2012: o blog Educação pela Rede foi desativado em 2011.
Bem… quero mencionar sobre o texto, pela experiência relatada a mim por Marina, estudante 6º ano fundamental, em que o professor presenteou um único aluno com a barra de chocolate e 16 alunos com bombom e uma aluna ganhou bala, por pontuações deacordo com a recompensa estabelecida pela professora, na classe o ganhador da barra foi o pior aluno em comportamento… Gostei muito de poder mencionar essa passagem, acredito que essas observações podem gerar uma metodologia qualificada superando no cotidiano turbulencias e estreitando laços entre alunos e professores possibitar assim troca de conhecimento.
O que enfrento na sala de aula não é o Joãozinho… se fosse estaria realizada, pois amo esse aluno questionador que faz com que eu fique sempre em busca, pesquise mais e mais, para dar aulas e construir conhecimento juntamente com eles.
Na minha sala há um (mais de um) outro personagem que apresenta problemas de comportamento que são já anteriores e muitas vezes são a resposta a tudo que vivencia: descaso, negligência, agressões verbais e físicas, fome… enfim.
Obrigada, Thay e Lúcia. Eu também fui como o Pedrinho. Aqui em casa, as coisas seguiam a seguinte norma: "Trate de respeitar seus professores, senão…"
Que texto interessante, Andréa! Gostei muito mesmo! Eu fui como o Pedrinho: discordava, porém educadamente. Nunca conseguiria ser como o Zezinho. Já durante as aulas de religião, eu fui um verdadeiro Joãozinho, discordava de tudo e perturbava a minha professora, Irmã Maria José, com os meus questionamentos. Coitada! Como professora, já enfrentei de tudo. rsrsrs…
Abraços!
Muito bacana o texto. Eu nunca conseguiria ser o Zézinho. Um aluno que apenas concorda, não tem opinião. E o que leva um estudante que está em uma sala de aula se portar como Joãozinho. Na minha escola do ano passado a maior parte dos alunos se portava como no terceiro exemplo. Isso só prejudicava aos outros.