Carlos Drummond de Andrade é um de meus autores favoritos; cheguei a usar um de seus textos (Mundo grande) como inspiração para o meu primeiro blog – Leio o Mundo Assim. Além de poeta, Drummond também era cronista do Jornal do Brasil. Suas crônicas sempre atuais – e é essa a verdadeira literatura – muitas vezes, conduzem a reflexões sobre o fazer literário, a arte , a política, o cotidiano.
As crônicas têm origem nos relatos de viagem dos navegantes e o relato de fatos importantes nas cortes europeias e isso nos leva a Fernão Lopes, o mais importante escrivão da Corte Portuguesa, contemporâneo do início da expansão ultramarina.
Esse gênero textual – conforme o entendemos hoje – tem um caráter de entretenimento e nasceu no século XIX, em um espaço minúsculo do jornal, dividindo a atenção com as notícias da moda em Paris e os capítulos de alguns romances da época – era a origem dos folhetins. Marlyse Mayer, em seu texto Voláteis e versáteis. De Variedades e Folhetins se fez a Chronica, escreve que
(no séc. XIX) o folhetinista é a fusão agradável do útil e do fútil, o parto curioso e singular do sério, consorciado com o frívolo (…). Na sociedade, ocupa o lugar de colibri(…): salta, esvoaça, brinca, tremula, paira (…) Todo o mundo lhe pertence; até mesmo a política”. (MAYER, 1992, p. 94)
O livro De notícias e não notícias faz-se a crônica é uma coletânea dos textos publicados pelo escritor no Jornal do Brasil ao longo de vinte anos até 1974. Sua última crônica – Ciao – foi publicada dez anos depois e descrevia um pouco a tarefa do cronista:
não exige de quem a faz o nervosismo saltitante do repórter, responsável pela apuração do fato na hora mesma em que ele acontece; dispensa a especialização suada em economia, finanças, política nacional e internacional, esporte, religião e o mais que imaginar.
Os textos do poeta eram divulgados no famoso Caderno B, veículo de divulgação de poesias, resenhas, programação cultural. Escrever ficção sobre o cotidiano não era uma novidade no jornalismo. Cristiane Costa, na introdução ao livro de Drummond, comenta que o formato apareceu em 1828 no jornal Espelho Diamantino e “lançou a ideia de que todo jornal deveria ter um observador de costumes, que registrasse o que visse ou ouvisse pelas ruas da cidade”. No século XX, com a distinção bem clara das tarefas do jornalista e do cronista, a esse caberia a tarefa de entreter o leitor, enquanto ao outro cabia apenas informar. Drummond escrevia crônica com a leveza própria de quem escreve boa literatura e a nós, seus leitores, só cabe procurar o canto mais confortável da casa, colocar os pés para o alto e ler o livro todo de uma vez só.
ANDRADE, Carlos Drummond de. De notícias e não notícias faz-se a crônica. 10.ed. São Paulo: Companhia das Letras. 333p.
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Referências bibliográficas:
MAYER, M. Voláteis e versáteis. De Variedades e Folhetins se fez a Chronica. In: FUNDAÇÃO CASA DE RUY BARBOSA. A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Ruy Barbosa, 1992. p. 93-134.