A série ENEM – Questões comentadas foi criada no blog Conversa de Português em 2014 e consiste na apresentação das questões aplicadas no Exame Nacional do Ensino Médio e – a partir da matriz de referência do INEP – a observação das competências e habilidades correspondentes. A estrutura é a seguinte: apresentação da questão, competência e habilidade, gabarito oficial, comentário e link para estudos. Utilizo o caderno amarelo como referência para o gabarito. Hoje comentamos a questão 111, cujo tema foi o livro O Ateneu, do escritor naturalista Raul Pompeia.
QUESTÃO 111
Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti.
Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito.
POMPÉIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.
Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção social do colégio demarcado pela
(A) ideologia mercantil da educação, repercutida nas vaidades pessoais.
(B) interferência afetiva das famílias, determinantes no processo educacional.
(C) produção pioneira de material didático, responsável pela facilitação do ensino.
(D) ampliação do acesso à educação, com a negociação dos custos escolares.
(E) cumplicidade entre educadores e famílias, unidos pelo interesse comum do avanço social.
Gabarito oficial: A
Competência de área 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 – Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 – Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
Comentário:
O Naturalismo é um movimento literário da segunda metade do século XIX e uma de suas características é o romance de tese, por meio do qual o escritor coloca-se como um observador da sociedade e a analisa como um objeto científico. Em O Ateneu, Raul Pompeia critica as instituições de ensino, mostrando-as como um negócio financeiramente vantajoso.
Aprofunde seus estudos:
Simulado: Realismo, Naturalismo e Parnasianismo