Em 7 de fevereiro, celebrou-se o Dia da Segurança na Internet. Na data, não publiquei nada aqui no Conversa de Português, pois o blog estava sendo migrado de serviço de hospedagem e eu não podia fazer nenhum tipo de alteração. A data passou e eu achei que não valia mais a pena tocar no assunto. Hoje, dia 21, uma olhadinha no Facebook fez-me mudar de ideia. Talvez , o leitor do CP pense: “Mas o que tem a ver segurança na internet com língua portuguesa?”. Tudo! Órgãos como o Safer.net já alertaram que uma das características do spam são os “erros de português”!
Na internet, as notícias falsas se espalham mais rápido do que as verdadeiras e úteis. Há alguns dias, circula naquela rede social o boato de que, assim como acontecera no primeiro ano do governo Collor, os titulares de conta poupança teriam suas economias confiscadas. Eu vi vários textos de divulgação e somente um deles já somava mais de cinco mil compartilhamentos.
Boato é a divulgação de uma notícia sem fundamento, geralmente baseada em informações incompletas e oriundas de fontes pouco ou nada confiáveis. Na internet, ele é chamado de hoax, pois o objetivo é propagar a notícia falsa a um número cada vez maior de pessoas. É o velho e conhecido Spam! O Comitê Gestor de Internet do Brasil traz em seu site algumas pistas desse tipo de publicação:
Boatos (hoaxes) e lendas urbanas. O discurso utilizado visa a sensibilizar o leitor. São aquelas histórias mirabolantes sobre crianças à beira da morte, cujos pais receberão uma ótima doação se você encaminhar a mensagem para todos os seus amigos. Algumas circulam na web há muitos anos.
Correntes (chain letters). São aquelas mensagens que vêm junto com a recomendação “Envie para todos os seus amigos”, “Você precisa enviar isto para um número X de pessoas”, “não quebre essa corrente”, “prove o quanto somos amigos”. Parece que esse tipo de incômodo – eu fico irritada quando recebo algo assim – também chegou ao Whatsapp.
Texto ruim. Uma das características do spam é o fato de que, na maioria das vezes, o texto é muito mal escrito – e isso envolve vários aspectos da produção textual! O site Safer.net também já alertou para esse “detalhe”. Observe de novo a imagem que circula no Facebook; eu marquei apenas os sete erros mais óbvios do texto:
1. O que está “sendo promovida”? Nem dá para afirmar que houve aqui um erro de concordância nominal, pois o caos é tão grande que o adjetivo promovida não se relaciona a mais nada no texto. O problema é a coesão mesmo!
Confira nossos textos sobre Concordância.
2. “Federção dos Estados do Brasil”. Além da ortografia equivocada, há um outro erro: o órgão regulador do bancos brasileiros é a FEBRABAN – Federação Brasileira de Bancos. A instituição não tem prerrogativas legais para confiscar nada!
3. “…por motivo economico…” / “gerencia nacional do Brasil” – A acentuação gráfica dessas palavras não foi alterada com o Acordo Ortográfico!
Saiba o que foi alterado na nova ortografia da língua portuguesa!
4. “Entre 17/02/2015 sem determinação de volta”. O leitor vê “entre 17/02…” e imagina que o resto do prazo aparecerá na sequência, o que não acontece. Alguém achou a coerência dessa frase? Se não há previsão, então o texto deveria ser “A partir de 17/02, sem previsão de volta.”
5. “Aqueles que tiver…” . O uso do infinitivo pessoal acarreta algumas dúvidas, mas aqui cabe a flexão: aqueles que tiverem.
Veja os usos do infinitivo.
6. “Aqueles que tiver dúvidas Procure seu gerente”. O uso das iniciais maiúsculas está previsto na gramática normativa, mas há alguns casos em que elas são usadas apenas por estilo; é uma das características, por exemplo, dos textos do Simbolismo, movimento literário do século XIX.
Saiba como usar as iniciais maiúsculas.
7. Preciso dizer alguma coisa? Preciso! O infeliz que montou a imagem não sabe o nome do banco!
Segurança na web é coisa séria e precisamos ficar atentos! No caso descrito, não temos uma possibilidade de infestação dos nossos computadores nem roubo de senhas – como costuma acontecer em falhas de segurança-, mas aqui o alerta é sobre a leitura atenta de um texto que visa a espalhar o pânico e a preocupar as pessoas sem a menor necessidade! Vale lembrar que o Ministério da Fazenda já divulgou nota sobre esse hoax. Para ler o texto oficial, clique AQUI (Atenção: será aberto o documento em PDF, disponibilizado pelo Ministério. Não há no site do MF link para leitura diretamente no navegador).
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