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Morte e vida severina: como foi a nossa live

Em 20 de abril, aconteceu a segunda live do Conversa de Português, em parceria com a professora Joseane Ribeiro. Neste post, você lerá um breve resumo do nosso bate-papo e ouvirá uma edição especial do ConversaCast, com parte do áudio capturado durante a live.

Análise da obra

Morte e vida severina (ou auto de Natal pernambucano) foi publicado por João Cabral de Melo Neto em 1955; é, portanto, uma obra da terceira geração modernista. O texto foi produzido por encomenda de Maria Clara Machado, criadora da escola de teatro Tablado, que desejava montar um auto de Natal. O texto conta a sina de Severino, retirante nordestino, que migra dos limites de Pernambuco com a Paraíba até Recife, em busca de melhores condições de vida. Em sua jornada, encontra outros personagens também chamados Severinos. João Cabral utiliza uma metonímia para dizer que todos os indivíduos naquela trama são iguais (“iguais em tudo na vida”): quanto mais Severino tenta se apresentar como um indivíduo, mais ele se torna igual a todos os outros:

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.

A peça é estruturada em dezoito cenas. Da primeira à décima quarta cena, nota-se uma alternância entre possíveis monólogos e alguns diálogos. Se lermos a primeira cena ─ compreendida por muitos como um monólogo , perceberemos que há um diálogo, não apenas com um espectador, mas com vários, a quem Severino se dirige com um respeitoso “Vossas Senhorias”; ele fala com a plateia. E é o espectador/ leitor quem seguirá com ele na viagem até o Recife. Da décima quinta à décima sexta cena, acontecem apenas diálogos entre Severino e outros personagens. Na última, apenas José mestre carpina tem falas, o que não constitui exatamente um monólogo, visto que ele responde a uma pergunta feita por Severino na cena anterior.

As possibilidades de leitura

Podemos identificar, ao menos, 5 possibilidades de leitura em Morte e vida severina: a partir do título, a partir da descrição de Severino, a partir do curso do rio Capibaribe e partir dos temas abordados.

O título: Morte e vida severina (ou auto de Natal pernambucano)

Nessa obra de João Cabral, “severina” é um termo grafado com inicial minúscula; é um adjetivo, embora muitas editoras insistam no uso da maiúscula em suas capas. É Severino quem traz as expressões “morte severina” e “vida severina”. A primeira é descrita como aquela “que mata de velhice antes dos 30”, mas também mata “gente nem nascida”.

Como subtítulo, temos “Auto de Natal pernambucano”, que remete às tradições teatrais medievais ibéricas e, principalmente, ao teatro de Gil Vicente, dramaturgo que inspirou também Ariano Suassuna na elaboração do seu Auto da Compadecida. O auto é um gênero teatral que visa à representação de uma passagem bíblica; em Morte e vida severina, temos a montagem de um presépio a partir da 13ª cena. A referência ao nascimento de Jesus é mais evidente ainda quando o leitor percebe que José mestre carpina é a representação de José, o carpinteiro, pai adotivo de Jesus.

A descrição de Severino: “Meu nome é Severino […] não tenho outro de pia”

Toda a primeira cena (“O retirante explica ao leitor e a que vai) é dedicada à apresentação do protagonista. Severino não tem sobrenome. As primeiros versos são elaborados a partir de uma metonímia figura de linguagem muito utilizada por Cabral nessa obra referente ao batismo: é o primeiro rito católico em que o nome do indivíduo é proferido; como o personagem não tem sobrenome, aquilo que deveria individualizá-lo torna-o mais um em uma multidão de Severinos: “Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba”, “Severino que em vossa presença emigra”, “Severino retirante”.

O rio Capibaribe

A viagem de Severino é feita às margens do rio Capibaribe e outros cenários aparecem no texto: caatinga, região de árvores secas e espinhosas, onde começa a ação; agreste, ambiente rude, áspero; zona da mata, região fértil, propicia ao plantio da cana-de-açúcar (aparece associada à usina no poema); Recife, objetivo da viagem, é representada pelo mangue, ali é montado o presépio que encerra o auto.

Temas abordados em Morte e vida

Em Morte e vida, podemos observar, ao menos, cinco temas paralelos: a seca, motivo da migração; o coronelismo, presente na figura do coronel Zacarias e na morte por emboscada; a decadência dos engenhos e surgimento das usinas; duelo constante entre a vida e a morte.

Você perdeu a nossa live? Sem problemas! Eu preparei um episódio especial do ConversaCast com parte do áudio capturado da live. Ouça abaixo pelo Spotify:

Se não conseguir visualizar o player, ouça no Spotify.

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Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

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