Um leitor enviou-me a seguinte mensagem: “Eu nunca consigo saber quando UM é numeral e quando é artigo. Qual é a diferença?”. Eu respondi por e-mail e publico aqui a resposta.
Antes de qualquer coisa, precisamos lembrar que a palavra UM assume duas classes gramaticais na língua portuguesa: numeral e artigo indefinido. De fato, nem sempre é simples reconhecer a diferença, mas – se soubermos a diferença entre as duas classes – pode ser mais fácil.
O que é e para que serve um artigo?
O artigo pode ser analisado sob três perspectivas: semântica, morfológica e sintática. Na primeira, observamos se o substantivo a que ele se relaciona foi considerado de forma geral ou específica, se é a primeira vez que aparece em um texto ou se está sendo retomado; por exemplo: “Lucas é o rapaz que conheci na festa” tem sentido diferente de “Lucas é um rapaz que conheci na festa”).
Na segunda perspectiva (morfológica), vemos apenas os morfemas que constituem os artigos. Essa classe de palavras pode ser flexionada em gênero (masculino ou feminino) e número (singular ou plural) e pode se contrair com outras classes de palavras: ao (preposição A + artigo O), pela (preposição POR + artigo A), da (preposição DE + artigo A).
Já a terceira perspectiva corresponde à função do artigo no sintagma nominal. Ele será o especificador do núcleo do sintagma:
O que é e para que serve um numeral?
Assim como o artigo, o numeral também pode ser analisado semanticamente, morfologicamente e sintaticamente. Na perspectiva semântica, os numerais indicam um valor definido; na morfológica, percebemos que esta é uma classe de palavra invariável em número (usamos palavras diferentes para designar quantidades diferentes: um, dois, três…), porém flexionada em gênero apenas em um e dois e nas centenas a partir de duzentos (duzentas, trezentas, quatrocentas…). Na sintática, pode exercer duas funções no sintagma nominal: núcleo do sintagma ou modificador do substantivo.
Note que, em nosso exemplo, utilizamos um numeral fracionário (metade, meio, terço…) que exerceu a função de núcleo do sintagma nominal em que se insere.
Observe os quadrinhos a seguir:
Na tirinha, a maneira como Hagar entende o vocábulo UM é diferente da de Eddie Sortudo, o que pode ser comprovado pela fala de Hagar no último quadro: “Essa é uma segunda pergunta.” A intenção de Eddie era dizer que faria uma pergunta qualquer. Hagar, por sua vez, entende e autoriza a elaboração de apenas uma pergunta (quantidade) e entende que seu amigo havia contrariado essa autorização. O leitor pode inferir, ainda, que um personagem entendera perfeitamente a questão, mas fingiu interpretar de outro jeito, a fim de fugir da indagação constrangedora.
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