O estudante que prestou o Exame Nacional do Ensino Médio 2016 pela primeira vez em 2016 deve ter percebido que a prova não corresponde à expectativa de quem pensava ser suficiente apenas decorar um monte de regras ou conceitos. O candidato certamente notou que o ENEM — assim como nas edições anteriores — exigiu raciocínio lógico e, no lugar da “decoreba”, a compreensão dos tópicos apresentados. É assim tanto para as disciplinas exatas quanto para as de humanidades. A prova de Linguagens e códigos segue o mesmo padrão e um exemplo disso são as questões de Literatura. Abaixo, os leitores encontrarão a análise da questão 132, cujo tema era Arcadismo, expressão literária do século XVIII. Utilizo, aqui no Conversa de Português, o caderno CINZA como referência para o gabarito.
QUESTÃO 132
Soneto VII
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado:
Ali em vale um monte está mudado:
Quando pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.
Eu me engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera.
(COSTA, C.M. Poemas. Disponível em www.dominiopublico.gov.br. Acesso em 7 jul 2012)
No soneto de Claudio Manuel da Costa, a contemplação da paisagem permite ao eu lírico uma reflexão em que transparece uma
(A) angústia provocada pela sensação de solidão.
(B) resignação diante das mudanças do meio ambiente.
(C) dúvida existencial em face do espaço desconhecido.
(D) intenção de recriar o passado por meio da paisagem.
(E) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra.
Gabarito oficial: E
Comentário:
Assim como nas edições anteriores, a banca não deixa muito explícito qual é o tema da questão, mas o leitor que fizer a leitura com atenção concluirá que o tema é o Arcadismo. Claudio Manuel da Costa — autor do poema — é um dos principais escritores daquele movimento literário.
O texto de Claudio é representativo de algumas das características árcades: o fugere urbem, o bucolismo e locus amoenus, presentes no retorno ao campo e no desejo explícito de vida tranquila que outrora o eu lírico vislumbrara (“Uma fonte aqui houve”; “Árvores aqui vi florescentes”). O desejo de tranquilidade se contrapõe à realidade, uma vez que o eu lírico demonstra ter encontrado um lugar diferente daquele guardado em sua memória (“Eu me engano: a região esta não era; / Mas que venho a estranhar, se estão presentes /Meus males, com que tudo degenera.”).
Links para estudo:
ENEM 2015 – Questões comentadas: Arcadismo