Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), elaborados em 1998, determinam claramente que o professor de Língua Portuguesa deve, além de ensinar a norma culta, conscientizar o aluno sobre o grande número de variedades que há em qualquer língua. O que eu observo, em muitos livros didáticos, é uma abordagem pouco satisfatória do tema. Este post inaugura uma nova categoria de textos aqui no Conversa: Dicas para professores e darei três indicações de leitura sobre o tema variação e variedades linguísticas.
O que costuma aparecer nos livros didáticos?
Antes de escrever este post, conferi três coleções de livros didáticos do PNLD 2015 (Programa Nacional do Livro Didático). Elas têm em comum um quadro em que são listados quatro tipos de variação linguística e um breve conceito de cada um: sociocultural, situacional, histórica e geográfica. Em seguida, surge um pequeno trecho de algum texto representativo de cada variação e exercícios transcritos de exames vestibulares.
Por que o professor deve buscar outras coisas?
Embora eu tenha recebido essas coleções, não as uso e eu mesma preparo todo o material utilizado pelos meus alunos. Sempre acreditei que é possível, sim, incentivá-los a buscar informações em outras fontes: vídeos, artigos acadêmicos (Por que não?), jornais, revistas… O leitor assíduo do Conversa de Português já deve ter notado isso.
Ainda não achei nenhum livro didático em que se proponha uma discussão mais profunda sobre o tratamento das variações linguísticas no Ensino Médio. Tenho a sensação de que se eu não for além, a minha turma não perceberá a importância de estudar tal assunto e não terá consciência de um preconceito tão corriqueiro, que não o notamos mais: o preconceito linguístico. Penso, ainda, que o assunto fica limitado às discussões acadêmicas e não chega ao nosso alunado, a quem as nossas pesquisas deveriam, de fato, favorecer.
O que eu leio antes de preparar uma aula sobre esse tema?
A área de estudo que trata da variação linguística é a Sociolinguística, “uma das subáreas da Linguística [que] estuda a língua em uso no seio das comunidades de fala, voltando a atenção para um tipo de investigação que correlaciona aspectos linguísticos e sociais” (MOLLICA, 2010, p. 9). Ela se interessa por investigar o contato entre as línguas, surgimento e extinção linguística, multilinguismo e mudança. Ao preparar uma aula sobre o tema, consulto, pelo menos, os três livros abaixo:
Introdução à Sociolinguística: tratamento da variação
O livro aborda as diferentes dimensões da Sociolinguística e contribui para o conhecimento da estrutura e do funcionamento do português brasileiro. A obra é organizada por Maria Cecilia Mollica e Maria Luiza Braga, e contém dezesseis artigos de autores convidados. Os textos mostram quais são as variáveis consideradas em uma pesquisa e a relevância de cada uma delas.
MOLLICA, M.C.; BRAGA, M.L. Introdução à Sociolinguística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2010. 200 p.
Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística
No primeiro capítulo do livro, o professor Marcos Bagno apresenta um estranhamento e uma preocupação no que diz respeito aos livros didáticos: o tratamento da variação linguística não é realizado adequadamente. Esse é um dos primeiros livros que li sobre o assunto e fiquei bastante surpresa ao constatar que o autor chegou a essa conclusão após usar os livros didáticos como seu objeto de pesquisa. Um dos objetivos do livro é oferecer subsídios teóricos aos docentes de Língua Portuguesa.
BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. 238 p.
Preconceito linguístico: o que é, como se faz
Bagno discute a forma preconceituosa como a escola e a sociedade tratam o uso da língua. O autor apresenta oito mitos que reforçam o preconceito linguístico, como, por exemplo, “brasileiro não sabe português” e “português é muito difícil”. São os mesmos temas expostos no livro A língua de Eulália, porém com uma abordagem um pouco mais teórica.
BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. 352 p.
Que outros livros você, professor, indicaria? Deixe suas sugestões de leitura nos comentários.
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