Conto é um gênero narrativo literário e apresenta os seguintes elementos: enredo, espaço, tempo, narrador e personagens. Diferenciá-lo de outras estruturas narrativas – como o romance e a novela – tem sido o desafio de diversos teóricos. Neste texto, apresentaremos algumas características do gênero.
O termo conto surgiu na Idade Média (século XII), com o sentido de relatar coisas verdadeiras, e tem sua origem na palavra latina computare (enumerar, contar); enumeraria, portanto, os episódios de um relato. Ao longo do tempo, no entanto, a palavra passou a ser aplicada aos textos medievais em versos, aos ditados e até mesmo às cantigas de gesta (textos que contavam as batalhas dos cavaleiros).
No final do Renascimento, o gênero ganhou uma nova feição: deixou de ser um relato da realidade e passou a ser identificado como “narração de alguma aventura, seja ela vivida, fabulosa, séria ou divertida” (STALLONI, 2001, p. 119). Durante a transição do século XVII ao XVIII, apareceram novas espécies literárias de conto, consolidadas com a publicação de coletâneas da época como, por exemplo, Contos da mamãe ganso, de Charles Perrault (1697). Desde então, o conto literário passou a ter o sentido de relatos de fatos imaginários , destinados ao entretenimento.
Angélica Soares (1993) considera o conto “uma forma narrativa de menor extensão e se diferencia do romance e da novela não só pelo tamanho, mas por características estruturais próprias”(p. 54). Enquanto o romance apresenta o enredo de forma bastante detalhada, o conto constitui-se como um flagrante de um episódio: delimita claramente o tempo e o espaço, elimina as análises minuciosas e descarta as complicações de enredo.
Qual é a estrutura básica do conto?
- Apresentação;
- complicação ou desenvolvimento;
- clímax;
- desfecho.
Que espécies de personagens podem aparecer no conto?
- Protagonistas
- Antagonistas
- Coadjuvantes
Veja abaixo um trecho do conto A missa do galo, de Machado de Assis:
Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite.
A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias, com uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem, quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia tranquilo, naquela casa assobradada da rua do Senado, com os meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite toda a gente estava nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas, afinal, resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que era muito direito. […]
Pouco a pouco, tinha-se inclinado; fincara os cotovelos no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos espalmadas. Não estando abotoadas, as mangas, caíram naturalmente, e eu vi-lhe metade dos braços, muitos claros, e menos magros do que se poderiam supor. A vista não era nova para mim, posto também não fosse comum; naquele momento, porém, a impressão que tive foi grande. As veias eram tão azuis, que apesar da pouca claridade, podia contá-las do meu lugar. A presença de Conceição espertara-me ainda mais que o livro. Continuei a dizer o que pensava das festas da roça e da cidade, e de outras coisas que me iam vindo à boca. Falava emendando os assuntos, sem saber por quê, variando deles ou tornando aos primeiros, e rindo para fazê-la sorrir e ver-lhe os dentes que luziam de brancos, todos iguaizinhos. Os olhos dela não eram bem negros, mas escuros; o nariz, seco e longo, um tantinho curvo, dava-lhe ao rosto um ar interrogativo. […]
Note que as informações mais importantes são apresentadas nos parágrafos iniciais do texto:
Narrador: Nogueira, narra em 1ª pessoa e é personagem da história.
Espaço: Uma casa na Rua do Senado, Centro do Rio de Janeiro.
Personagens: Meneses, a mulher (D. Conceição), a sogra e duas escravas.
Tempo: Tempo psicológico. O narrador conta a história de acorda com as suas lembranças e elas não dependem do tempo cronológico. O leitor deve observar a predominância dos verbos usados no pretérito.
Enredo: O conto de Machado de Assis relata o diálogo travado entre Nogueira – um jovenzinho de 17 anos – e sua anfitriã – Dona Conceição – na noite de Natal. Conceição, que era deixada pelo marido todas as noites, tinha um comportamento ambíguo em relação a Nogueira: na presença de todos era recatada, mas na conversa com o jovem parecia insinuante.
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Nosso leitor pode baixar o conto Missa do Galo no site do Projeto de Mão em Mão. Clique AQUI.
Referências bibliográficas:
SOARES, A. Gêneros literários. São Paulo: Ática, 1993 (Série Princípios, 166)
STALLONI, Yves. Os gêneros literários: a comédia, o drama, a tragédia. O romance, a novela, os contos. A poesia. Rio de Janeriro: DIFEL. 2001.