Como já explicamos em outro texto, o Simbolismo surgiu oficialmente com a publicação do Manifesto do Simbolismo, de Jean Moréas, em 18 de setembro de 1886, no jornal Le Figaro. Os poetas fundadores do movimento eram oriundos do Parnasianismo francês: Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Cobière, Charles Cros, Germain Nouveau e outros. Um dos principais poemas do período é Arte poética, de Paul Verlaine, texto que pode ser considerado um resumo das ideias simbolistas.
O título do poema (“Arte poética”) faz uma referência direta à obra homônima publicada por Aristóteles cerca de três séculos antes de Cristo. Naquela obra, o poeta grego estabeleceu as características que deveriam contribuir para a elaboração dos textos poéticos e das produções teatrais. Assim, podemos observar que, ao utilizar o mesmo título, Verlaine também propõe um ideal de poesia.
A primeira estrofe do poema mostra que o Simbolismo considera a musicalidade mais importante do que a literatura e que a subjetividade será uma de suas características:
Antes de tudo, a música preza
portanto, o ímpar. Só cabe usar
o que é mais vago e solúvel no ar
sem nada em si que pousa ou que pesa.
O Simbolismo propunha a valorização de informações vagas e do abstrato (“Só cabe usar o que é mais vago…”). Para compreender esse trecho, é importante recordar a explicação de Mallarmé em 1886: “Referir-se a um objeto pelo seu nome é suprimir três quartas partes da fruição do poema, que consiste na felicidade de adivinhar pouco a pouco; sugeri-lo, eis o que sonhamos” (JUNKES, 2006, p.7).
Na estrofe seguinte, a intertextualidade acontece com o Parnasianismo, que valorizava a objetividade temática, a métrica rígida, a formalidade linguística, a descrição de objetos banais ou elementos da natureza. Observe abaixo a estrofe do texto “Arte Poética” ao lado de um trecho do poema “Profissão de fé”, do poeta parnasiano Olavo Bilac:
Escolher as palavras é preciso,
mas como certo desdém pela pinça;
nada melhor do que a canção cinza
onde o indeciso se use ao preciso. (Verlaine)
Porque o escrever – tanta perícia,
tanta requer,
Que ofício tal… nem há notícia
De outro qualquer. (Bilac)
Observe que, no texto simbolista, destaca-se o desprezo pelo excessivo valor que o movimento literário anterior dava à escolha vocabular e à objetividade. Enquanto no Parnasianismo, o ideal poético estava ligado à questão estética, o Simbolismo valoriza aquilo que só pode ser percebido pelos sentidos, como se pode ver nas estrofes seguintes:
Uns belos olhos atrás do véu,
o lusco-fusco do meio-dia
a turba azul de estrelas que estria
o outono agônico pelo céu!
Pois a nuance é que leva a palma,
nada de cor, somente a nuance!
Nuance, só, que nos afiance
O sonho ao sonho e a flauta na alma!
[…]
A eloquência? torce-lhe o pescoço!
e convém empregar-lhe de uma vez
a rima com certa sensatez
ou vamos todos parar no fosso!
Quem nos dirá dos males da rima!
Que surdo absurdo ou que negro louco
forjou uma joia este toco toco
que soa falso e vil sob a lima?
Note que o poema francês parece dialogar com outro trecho do poema de Bilac, para quem a produção literária é resultado de muita técnica e muito esforço:
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
como um rubim.
O Parnasianismo e Simbolismo surgiram em meio à evolução tecnológica do final do século 19; assim, enquanto aquele compreendia a literatura como uma técnica e o poema como seu produto, o movimento seguinte buscava a aproximação com a religião e a filosofia, o bem e o belo, o verdadeiro e o sagrado.
Leia mais sobre o Simbolismo:
Para baixar os textos “Arte poética” e “Profissão de fé´”, citados neste artigo, clique AQUI. (Abrirá uma tela do OneDrive)
Referências:
JUNKES, L. Roteiro da poesia brasileira: simbolismo. São Paulo: Global, 2006.