Língua Portuguesa Linguística

Como ler um texto?

Interpretação de texto é um tópico que aparece na maioria dos editais de concurso público, que não deixam  muito  claro o que esperam  ser feito pelo candidato. É muito comum o leitor achar que interpretar um texto é emitir a sua opinião e é exatamente esse pensamento equivocado que, muitas vezes, prejudica o aluno na sala de aula e o candidato em um concurso. Nessa situação,  candidato é levado a pensar sobre o texto a partir de questões elaboradas pela  banca e se vê diante  de algumas possibilidades de resposta. Em outras situações, como  é possível fazer uma boa leitura? Neste texto,  veremos  uma das diversas possibilidades de analisar um texto.

Koch e Elias (2008) apresentam a concepção de leitura a partir de três focos: autor,  leitor e  interação autor-texto-leitor. O primeiro foco considera a língua como  representação do  pensamento do autor e esse como “senhor de suas ações e de seu  dizer” e caberia ao  leitor desvendar o texto como  representação mental, além das intenções psicológicas do  autor.  Essa concepção acaba por provocar a distorção da leitura e, possivelmente, é a responsável  pela clássica (e boba!) pergunta “O que o autor quis dizer?”. O segundo foco (texto) considera a leitura como reconhecimento do sentido das palavras utilizadas e da estrutura do  texto; para explicar essa concepção de leitura, as autoras usam  a expressão “tudo está dito no  dito”. Quando o foco  da leitura considera a interação autor-texto-leitor, o texto é  visto  como um “espaço” de interação e diálogo entre os interlocutores. Nessa última concepção de leitura, o sentido do texto  é  construído com base em  elementos linguísticos, em  sua organização e no  conjunto de saberes que  o  leitor já  tem. 

Na tirinha de Bob Thaves, podemos  ver um exemplo de interação entre o  autor e o leitor, que deve usar seu  conhecimento  de mundo  para interpretar a mensagem do  chargista.  A compreensão do texto exige mais do que conhecimentos  linguísticos: o leitor deve reparar que “estrada” foi  utilizado de  maneira metafórica, assim  como “obras”. Percebemos aqui que o  texto  leva o leitor a refletir sobre a vida como algo que é realizado  diariamente e  cujo  fim desconhecemos, assim como  uma estrada  inacabada.

É sempre  bom lembrar – assim  como  o  fazem as autoras – que  o leitura  não  é  ver qualquer coisa no  texto.  Koch e  Elias (2008) dizem que “é de fundamental  importância que o leitor considere na produção as ‘sinalizações’ do  texto, além dos conhecimentos que possui.” (p. 21).

Referências:

KOCH, I.V. ; ELIAS, V.M. Leitura, texto e sentido. Ler e compreender: os sentidos do  texto. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2008. p. 9-38

5 Comments

  1. Adorei este blog, vou visitá-lo com frequencia!!! Adoro buscar novidades para meus alunos e conseguir ideias para motivá-los no ensino da língua portuguesa!!

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Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

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