Em um texto, dependendo da maneira como o narrador reproduz a fala dos personagens, temos o discurso direto, indireto ou indireto livre. Você consegue reconhecê-los? Veja o texto abaixo e a tabela que preparamos com as principais diferenças.
Leia o fragmento do conto A cartomante, de Machado de Assis:
– Errou! interrompeu Camilo, rindo.
– Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria…
Camilo pegou-lhe as mãos e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que seus sustos pareciam de criança; em todo caso, quando tivesse algum receio, a melhor a cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois… (ASSIS, 1997, p. 3)
Nesse texto, temos um narrador que fala em terceira pessoa (“Camilo pegou-lhe as mãos…”) e, em determinados momentos transcreve literalmente a fala dos personagens ou as reproduz indiretamente. É essa maneira de indicar a fala dos personagens que estamos aqui chamamos de discurso.
Quais são os tipos de discurso?
Discurso direto é a citação literal de algo que alguém disse. No texto escrito, são utilizadas marcas gráficas como aspas ou travessão. Repare que, no conto de Machado de Assis, há utilização dos travessões para introduzir as falas dos personagens, mas o autor não utiliza os recursos gráficos para separar o texto do narrador – o mesmo aparece em outros textos do final do século XIX – como no trecho “- Errou! interrompeu Camilo, rindo.”, em que nada há que separe a fala de Camilo do verbo dicendi usado no mesmo trecho. Esse tipo de verbo indica a forma de exprimir a fala. Os mais usuais são dizer, afirmar, declarar, perguntar, falar, pensar, comentar, gritar, retrucar, ponderar, explicar.
Discurso indireto é aquele em que as falas das personagens também são introduzidas por um verbo dicendi, porém em uma oração subordinada, em geral desenvolvida: “disse-lhe que era imprudente andar por essas casas”.
Confira como transpor de um tipo de discurso a outro.
Veja abaixo o quadro que mostra os recursos linguísticos utilizados na transposição do discurso direto para o indireto.
Há, ainda, um terceiro processo, resultante da combinação dos dois tipos já expostos. O discurso indireto livre “aproxima narrador e personagem, dando-nos a impressão de que falam em uníssono” (CUNHA, 2008, p. 655). Pode-se dizer que narrador “assume” os pensamentos e ações do personagem. No texto de Machado que nos serve de motivação, podemos observar esse tipo de discurso – ainda que de maneira muito sutil – final do trecho transcrito: “Vilela podia sabê-lo, e depois…”. Repare que as reticências indicam a suspensão daquilo que poderia ter sido dito pelo personagem.
O narrador, ao usar esse recurso, insere a fala do personagem sem utilizar as marcas do discurso direto, o que lhe permite apresentar os aspectos psicológicos, “já que esse tipo de discurso pode revelar o fluxo do pensamento” (TERRA, 2004, p. 44)
Veja mais no blog:
Modalidades discursivas e gêneros textuais
Referências:
ASSIS, M. A cartomante. Várias histórias. São Paulo: Globo, 1997.
CUNHA, C; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.
TERRA. E; NICOLA, J. Português – de olho no mundo do trabalho. São Paulo: Scipione, 2004.
Quais sao as tres pessoas do discurso?
Barbara, assim como as pessoas verbais, as pessoas do discurso (ou pessoas gramaticais) são três: 1ª pessoa [aquela que fala]: eu (singular), nós (plural)]; 2ª pessoa [aquela com quem se fala): tu (singular), vós (plural)]; 3ª pessoa [aquela de quem se fala: ele, ela (singular), eles, elas (plural].
Qual é a marca linguística do discurso indireto e direto?
Isadora, isso está explicado no quadro de resumo.
Esse texto possui trechos de discurso indireto e outros de discurso indireto. Se fossemos classificar o texto em geral, como um todo, qual seria o discurso? Direto ou Indireto? Ou entãoo classificaria como Discurso Indireto-Livre?
Brenda, como você deve ter percebido pela leitura do texto, os discursos direto, indireto e indireto livre são características do texto narrativo – o que não é um caso de um artigo ou qualquer espécie de texto acadêmico.
muito bom!!