Educação

Dia Internacional da Alfabetização

8 de setembro é considerado o Dia Internacional da Alfabetização. A data foi estabelecida pela UNESCO –  Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – em  1967 com o objetivo de  despertar a consciência  de que a alfabetização é um direito  humano e  é a base para todo aprendizado.

A UNESCO – em sua página em  língua espanhola – traz a seguinte pergunta: por que a alfabetização é  importante? O órgão internacional  entende que a habilidade de ler e escrever é  um direito   humano e  um instrumento para alcançar desenvolvimento individual e social. A educação básica de qualidade dota os alunos das competências de leitura,  escrita e cálculo que os  acompanhará por toda a vida.

A data remete a um princípio básico já  previsto no  Artigo 26 da Declaração dos  Direitos do  Homem, promulgada pela ONU em 1948: “Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.”  Apesar das  diversas campanhas de erradicação do analfabetismo  promovidas pelos diversos órgãos  associados à ONU, estima-se que  o  número de analfabetos  chegue a 900 milhões, cerca de 25% da população  mundial;  no  Brasil, são mais de 14 milhões, segundo  o último censo do Instituto Brasileiro de Pesquisas Estatísticas (IBGE), a maior parte em municípios do  Nordeste, com população de até 50 mil habitantes. O perfil dos analfabetos brasileiros revela que eles pertencem  aos grupos sociais historicamente marginalizados:  negros ou  pardos, moradores da zona rural. Embora o  Censo  2010 apresente uma redução de 20%  em  relação ao Censo  2000,  o  número  é  ainda assustador, uma vez que considera-se analfabeto  aquele  indivíduo incapaz de ler  um bilhete simples – critério bastante discutível, mas é o utilizado pela UNESCO. As pesquisas do IBGE consideram, ainda, as taxas de analfabetismo  funcional – pessoas de 15 anos ou mais de idade com menos de quatro anos de estudos completos.

O  Ministério da Educação (MEC) pretende lançar, em  2013, o  Plano  Nacional de Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), cujo  objetivo  é  garantir que todos os alunos  aprendam a ler e a escrever até os 8 anos de idade. Para atingir a meta,  o  governo  diz que investirá  na formação de professores que atuam  na primeira etapa do  ensino fundamental. Não  é a primeira vez, no entanto, que  um plano  semelhante é  elaborado.

Em 1961, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) criou os Movimentos de Educação de  Base, destinado à alfabetização das populações da zona rural. À medida que a ala progressista da Igreja ganhava mais  espaço,  os encontros de alfabetização tornaram-se mais conscientizadores e os trabalhadores recém-alfabetizados buscavam  também  outros direitos sociais. Em  1962, foram  criados o Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização, cuja inspiração  foi  o  método  utilizado  pelo  professor  Paulo  Freire.

Freire preocupava-se principalmente com o analfabetismo da população adulta  e escreveu uma série de livros e artigos em  que declarava  sua posição acerca da pobreza: o  analfabetismo é  um fator de cegueira cultural e aprisionamento; se o  trabalhador  não sabe ler,  sua ignorância não  permite que conheça seus direitos. Suas experiências educacionais começaram  em  1962, no  município de Angicos, no Rio Grande do  Norte, o  que  resultou  na alfabetização de  300 trabalhadores em  45  dias. Em 1964, o  Golpe Militar desativou  todos os movimentos de conscientização  popular, por considerá-los subversivos e prendeu todos os líderes.

Em 1967, o governo brasileiro criou o  Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização  – que utilizou  o método  Freire de maneira equivocada e sem  o  processo de conscientização política que era realizado  junto com  o ensino de leitura e escrita. Em 1970,  Paulo Freire foi a Genebra e lá, com outros  exilados, fundou  o Idac, que assessorava movimentos diversos como  os sindicatos italianos, os  movimentos  feministas suíços, as campanhas de alfabetização  de adultos na Guiné-Bissau e outros  países de língua portuguesa.

A atual  aposta do governo  brasileiro é  o  Brasil Alfabetizado, programa criado em  2003 e  voltado para a alfabetização de  jovens, adultos e idosos. De acordo com o site do MEC, o  programa “é desenvolvido em todo o território nacional, com o atendimento prioritário a 1.928 municípios  que apresentam taxa de analfabetismo igual ou superior a 25%”.

Fontes de consulta e sugestões de leitura:

História da Educação e da Pedagogia

História da alfabetização de adultos: de 1960 até os dias de hoje (artigo em pdf)

IBGE: Brasil  ainda tem 14, 1 milhões de analfabetos

Programa Brasil  Alfabetizado

Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

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