No texto Ortogtrafia no ENEM, publicado em 18 de junho de 2012, explicamos qual deve ser a atitude do candidato quanto ao uso da nova ortografia da língua portuguesa: observar o que diz o edital e, na ausência de item sobre o tema, usar a ortografia vigente. Lembramos, ainda, que a banca esperará por um candidato atualizado. Hoje, analisamos a questão 121 do Exame Nacional do Ensino Médio aplicado em 2010.
Vejamos a questão:
O presidente Lula assinou, em 29 de setembro de 2008, decreto sobre o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. As novas regras afetam principalmente o uso dos acentos agudo e circunflexo, do trema e do hífen. Longe de um consenso, muita polêmica tem-se levantado em Macau e nos oito países de língua portuguesa: Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
Comparando as diferentes opiniões sobre a validade de se estabelecer o acordo para fins de unificação, que, em grande parte, foge a essa discussão é
(a) “A Academia (Brasileira de Letras) encara essa aprovação como um marco histórico. Inscreve-se, finalmente, a Língua Portuguesa no rol daquelas que conseguiram beneficiar-se há mais tempo da unificação de seu sistema de grafar, numa demonstração de consciência da política da idioma e da maturidade, da defesa e ilustração da língua da Lusofonia.” (SANDRONI, C. Presidente da ABL. Disponível em: http://www.academia.org.br. Acesso em 10 nov. 2008)
(b) “Acordo ortográfico? Não, obrigado. Sou contra. Visceralmente contra. Filosoficamente contra. Linguisticamente contra. Eu gosto do ‘c’ de ‘actor’ e do ‘p’ de ‘ceptismo’. Representam um património, uma pegada etimológica, que faz parte de uma identidade cultural. A pluralidade é um valor que deve ser estudado e respeitado. Aceitar essa aberração significa apenas que a irmandade entre Brasil e Portugal continua a ser a irmandade do atraso.” (COUTINHO, J. P. Folha de São Paulo. Ilustrada. 28 set. 2008. E1 (adaptado)
(c) “Há um conjunto de necessidades políticas e econômicas com vista à internacionalização do português como identidade e marca econômica. É possível que o (Fernando) Pessoa, como produto de exportação, valha mais do que a PT (Portugal Telecom). Tem um valor econômico único.” (RIBEIRO, J. A. P. Ministro da Cultura de Portugal. Disponível em http://ultimahora.publico.clix.pt. Acesso em 10 nov 2008)
(d) “É um acto cívico batermo-nos contra o Acordo Ortográfico. O Acordo não leva a unidade nenhuma. Não se pode aplicar na ordem interna um instrumento que não está aceito internacionalmente” e nem assegura “a defesa da língua como património, como prevê a Constituição nos artigos 9º e 68º.” (MOURA, V. G. Escritor e eurodeputado. Disponível em http://mundoportugues.org . Acesso em 10 nov. 2008)
(e) “Se é para ter lusofonia, o conceito [unificação da língua] deve ser mais abrangente e temos de estar em paridade. Unidade não significa que temos de andar todos ao mesmo passo. Não é necessário que nos tornemos heterogéneos. Até porque o que enriquece a língua portuguesa são as diversas literaturas e sua utilização.” (RODRIGUES, M. H. Presidente do Instituto Português do Oriente, sediado em Macau. Disponível em http://taichungpou.blogspot.com. Acesso em 10 nov. 2008 (adaptado).)
Gabarito e comentário sobre a questão:
Letra C. O documento do Acordo Ortográfico foi redigido em 1990, mas, no Brasil, só foi decretado em 2008, ano em que se esgotava o prazo de implantação determinado pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP. Em Portugal, houve uma forte manifestação contrária à adesão da nova ortografia naquele país. Para resolver esta questão, não se exigiu conhecimento linguístico do candidato, mas sim o seu conhecimento sobre o tema e a polêmica em torno do documento. Também vale ressaltar que a questão é ela mesma a representação da diversidade que originou a necessidade de unificar a ortografia portuguesa. Note-se que o texto contém as grafias “económico” e “econômico”, conforme o uso em Portugal e no Brasil, respectivamente. Um dos argumentos favoráveis à mudança ortográfica era o fato de o português não ser considerado uma língua internacional por ter duas ortografias oficiais; a unificação reverteria este quadro.
Leia os outros textos sobre o Acordo Ortográfico que já foram publicados no Conversa de Português. Clique AQUI.
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Atualização em 02/03/ 2013: Por decreto presidencial, a nova ortografia somente passará a vigorar em 01 de janeiro de 2016.