Tabu designa algo que é proibido. O Mini Aurélio explica que a palavra tem origem polinésia e chegou ao português por meio do vocábulo inglês taboo. Transcrevemos os significados apresentados pelo dicionário.
ta.bu . 1. Em certos povos, imposição ritual ou religiosa de que se evitem certos indivíduos, objetos, atos,etc. considerados sagrados, impuros ou perigosos. 2. Restrição costumeira ou tradicional a certos comportamentos que, se praticados, recebem forte reprovação moral e social. 3. Escrúpulo, zelo ou melindre. 4. Aquilo que está sujeito a esses tipos de imposições, restrições ou escrúpulos.
O uso da linguagem também tem seus tabus: são aqueles termos que, por alguma razão moral ou religiosa, são evitados. Mario Eduardo Viaro, em seu livro Etimologia, diz que o tabu linguístico é responsável pela invenção ou pelo ressurgimento de muitas palavras. O professor explica, ainda, que este fenômeno dificulta o trabalho do etimólogo, pois uma determinada palavra pode desaparecer completamente ou reaparecer “tão descaracterizada por analogias inusitadas e imprevisíveis, que torne impossível o conhecimento do étimo” – ou seja, o vocábulo original. O etimólogo esclarece, também, que algumas vezes é impossível reconhecer o tabu linguístico sem o conhecimento de hábitos culturais antigos.
Um dos tabus linguísticos da língua portuguesa e cuja origem está na religião é o que diz respeito ao uso da palavra diabo. Em substituição a esta, muitas palavras foram criadas: diacho, dianho, dialho, diango, diangros e – quem diria! – até o nome Diogo. Pela mesma razão, costuma-se evitar o termo Lúcifer, embora o significado latino seja “aquele que traz luz”, o mesmo dos nomes Lúcia e Lucíola – que, obviamente, não são considerados tabus.
O professor Aldo Bizzochi não usa a expressão “tabu linguístico”, mas nos lembra das formas provenientes de eufemismos – “a tentativa de evitar expressões chocantes ou de baixo calão, substituindo-as por uma versão ligeiramente “modificada”‘. Assim, aparecem expressões com “putz”, “caraca”, “desgramado”, que servem para disfarçar palavras deselegantes. Outras aparecem como maneira para evitar a palavra “morte”: falecer, expirar, faltar. Até Pero Vaz de Caminha usou um eufemismo para referir-se aos órgãos sexuais dos índios: “Sem nada que lhes cubra as vergonhas“.
Também é um tabu linguístico o homem casado dizer “minha mulher”, mas a esposa não poder dizer “meu homem”; da mesma forma, o marido não se refere à esposa como “a amante”, ainda que a palavra sugira, pela estrutura da língua, que ela é “aquela que ama”.
Viaro, citando Bluteau, mostra-nos que pirilampo, como sinônimo de vagalume, surgiu artificialmente em uma conferência no ano 1696. O termo, cuja origem é grega e cujo significado original é “que brilha como fogo”, fora proposto na livraria do Conde de Ericeira. Os conferencistas propuseram a substituição por um termo mais adequado, “por ser cagalume (sic) incompatível com o nobre e majestoso estilo”. O professor cita algumas denominações chulas para referir-se ao inseto, como luzecu.
O tabu linguístico reflete, portanto, uma preocupação do indivíduo em não parecer ofensivo à moral religiosa ou aos padrões de comportamento social.
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Referências:
BIZZOCHI, A. Transformações das palavras. Revista Língua Portuguesa, São Paulo, n. 44, jun. 2009. Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.br/textos/44/artigo248611-1.asp>. Acesso em: 25 abr. 2012.
VIARO, M.E. Etimologia. São Paulo: Contexto, 2011.
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É bem legal, pena que na grade do meu curso não tivesse Etimologia nem História da Língua Portuguesa. Mas e “bolseta”? Também era considerada uma palavra Tabu?
Outra palavra que (segundo soube) foi criada artificialmente, mas por outros motivos (e que não pegou por aqui) foi Ludopédio.
Aline, é provável que “bolseta” tenha desaparecido por tabu. A língua italiana manteve “borsetta”, diminutivo de “borsa”. Obrigada pela visita ao blog!