A estética simbolista surgiu oficialmente com a publicação do Manifesto do Simbolismo, de Jean Moréas, em 18 de setembro de 1886, no jornal Le Figaro. Na época, o termo simbolismo foi usado em substituição ao termo decadentismo, que nomeava as tendências estéticas antipositivistas, antinaturalistas e anticientificistas.
Vejamos um trecho do Manifesto:
Como todas as artes, a literatura evolui: evolução cíclica com todas as voltas estritamente determinadas que se compilam com as diversas modificações trazidas pela marcha dos tempos e pelas revoluções dos meios. Seria supérfluo observar que cada nova fase evolutiva da arte corresponde exatamente à decrepitude senil, […] da escola imediatamente anterior. Assim o Romantismo, após soar todos os tumultuosos alarmas da revolta, após haver tido seus dias de glória e de batalha, abdicou de suas audácias heroicas […]; na honrosa e mesquinha tentativa dos parnasianos, ele esperou falaciosos renovadores; depois finalmente, tal como um monarca deposto na infância, ele se deixou depor pelo Naturalismo, ao qual não se pode conceder seriamente senão um valor de protesto legítimo, mas imprudente.Uma nova manifestação de arte era, portanto, esperada, necessária, inevitável. […] Já propusemos a denominação de Simbolismo como a única capaz de designar razoavelmente a tendência atual do espírito criador em arte. (TELLES, 2002, p. 62)
Os movimentos literários anteriores ao Simbolismo – Realismo, Naturalismo e Parnasianismo – foram fortemente influenciados pelo progresso científico do século XIX; temas como genética, evolucionismo, positivismo, sociologia, racionalismo eram debatidos pelos intelectuais e, consequentemente, a literatura também serviu como instrumento aos debates. No mesmo século, como movimento de descrédito da ciência, surgiu o Simbolismo, que propunha a diluição dos sentimentos e a valorização de informações vagas, do abstrato, do inefável e o do incorpóreo. Ainda em 1886, o poeta francês Mallarmé explicou o movimento simbolista:
Referir-se a um objeto pelo seu nome é suprimir três quartas partes da fruição do poema, que consiste na felicidade de adivinhar pouco a pouco; sugeri-lo, eis o que sonhamos. É o uso perfeito desse mistério que constitui o símbolo; evocar pouco a pouco um objeto para dele extrair um estado de alma, ou, inversamente, escolher um objeto e desprender dele um estado de alma, através de uma série de decifrações. (JUNKES, 2006, p.7)
No Brasil, o Simbolismo foi oficialmente instaurado em 1893, com a publicação de dois livros de Cruz e Sousa – Missal (Prosa poética) e Broquéis. Embora a crítica defina 1902 a 1922, como período Pré-Modernista no Brasil, a produção dos poetas simbolistas permaneceu até o ano da Semana de Arte Moderna. Historicamente, o Simbolismo coincide com a Revolução Federalista (1893-95) e a Revolta da Armada (1893-94). A Revolução Federalista opunha-se ao governo de Floriano Peixoto, o que provocou conflitos na Região Sul. Na Revolta da Armada, a Marinha, em ação combinada com os federalistas, apontou os canhões dos navios para o palácio do governo no Rio de Janeiro como forma de exigir a renúncia de Floriano.
Vejamos um poema simbolista:
A catedral
Alphonsus de Guimaraens
Entre brumas, ao longe, surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a bênção de Jesus.
E o sino clama em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”
Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu tristonho,
Toda branca a rezar.
E o sino clama em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”
O céu todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.
E o sino clama em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”
Glossário:
Bruma: nevoeiro, cerração intensa (sobretudo no mar).
Hialino: translúcido, claro como o vidro.
Ebúrnea: feito de marfim ou que lembra o marfim.
Lúgubre: relativo ao luto; que revela tristeza profunda; que inspira medo, pavor.
Responsos: série de palavras cantadas na liturgia católica em resposta à Primeira Leitura.
Análise do texto:
Os poemas de Alphonsus de Guimaraens utilizam como temas a solidão, a religiosidade, o amor, a loucura. Em A catedral, o eu lírico sugere o isolamento do indivíduo ao entrar em imensas catedrais.
Ao elaborar o texto, o poeta utiliza figuras de linguagem que provocam efeitos sonoros como aliterações e assonâncias. O uso de aliterações pode ser observado , por exemplo, no primeiro verso do poema “Entre brumas, ao longe, surge a aurora”, em que ocorre a repetição da consoante R; as assonâncias podem ser percebidas no verso “Onde os meus olhos tão cansados ponho”, em que há repetição de fonemas vocálicos.
O poeta também utiliza figuras de construção como as anáforas – repetição de versos inteiros: “E o sino clama em lúgubres responsos”.
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Referências
JUNKES, L. Roteiro da poesia brasileira: simbolismo. São Paulo: Global, 2006.
TELLES, G.M. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. 17.ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
Não estou conseguindo baixar os exercícios sobre o simbolismo, eu clico no link aparece como erro na página.
Gabrielle, já corrigi o arquivo. Você pode baixá-lo em http://conversadeportugues.com.br/downloads