Educação

Como incentivar alguém a ler?

No  sábado , 14 de  janeiro, recebemos  as visitas de  minha tia, o marido e meus dois   primos. Em algum momento da conversa, minha tia citou  minha prima adolescente com  a seguinte frase: “Ela parece com  você; lê cerca de quatro  livros por mês.  Adora ganhar livro!”. E começamos  a conversar sobre o   gosto  da família  pela leitura. Diz o ditado  que “quem  sai aos seus  não degenera”.

Quando criança, eu  lia muito às vezes, desconfio de que li mais dos  9 aos 15 do que nos  quatro  anos de curso de Letras. Acho que já falei sobre isso: meu avô tinha um acervo  bibliográfico  vasto e  me emprestava um  livro  por  semana; meus  pais  também eram   bons leitores e tínhamos uma boa  quantidade de livros, jornais e revistas. Tudo devidamente guardado, pois alguma coisa poderia  servir para as pesquisas escolares (Eu sou  do  tempo em  que   não havia o  Google, Wikipedia e muito  menos  o Ctrl+ C Ctrl + V). Alguém aí  pode até tentar dizer que isso  é controverso, pois copiávamos  de  outras fontes e  blá… blá… blá… (Nem comece, pois isso   não   é tema deste texto!).

Em determinado  momento,  meu  primo  mais  novo  foi  categórico: “Eu não   gosto de ler… não  consigo… acho  que sou  hiperativo!”. A declaração   virou  tema de debate e a tal  hiperatividade foi  parar no  videogame;  segundo ele, só  consegue ficar quieto  com o   jogo  na mão. Pensamos, então, todos: “Como   fazer alguém  ter gosto pela leitura?”. Basta dizer “Sente aí e leia”?

Encontrei entre minhas revistas antigas eu mantive o   hábito de  guardá-las para  futuras pesquisas  a  resenha O  que  você anda lendo  ultimamente?, de Renato Alessandro  Santos, em que diz o autor: “Preste atenção: a leitura não  deve ser vista como obrigação […]. Ler requer paciência, algo que é bom ter pela vida afora […]. É como plantar uma árvore na juventude.”

Eu não sei  como me incentivaram  a ler. Sei apenas que eu implorei para ir à escola era  nova demais! Eu queria ser alfabetizada, odiava a turma do  Jardim  de Infância prova disso é, que aos 4 anos de idade, inventei  uma dor de ouvido na tentativa de ser mandada de volta para casa.  Da minha sala de aula eu  via a turma da alfabetização e eu   odiei a professora por  me fazer  cobrir pontinhos quando  o  que eu queria mesmo  era a magia das palavras! Aos cinco, estava alfabetizada e feliz da vida! Ganhei meu primeiro texto literário da minha prima Izzi  A nova professora lá pelos seis anos.   E fui devorando livros.

Eu  fiz uma pergunta lá no título e, contrariando  o  que digo  aos meus alunos (“Se perguntou, responda!”), eu   não tentarei   respondê-la. Deixo ali, como  reflexão, para que os leitores do Conversa me contem de que maneira tornaram-se  leitores. Como  cada um foi incentivado  a ler na infância? E seus filhos como são  incentivados?

9 Comments

  1. O gosto e apego pela leitura veio pela observação de outras pessoas que tinham este hábito e como eu gostaria de ter aquele conhecimento ou oratória sobre determinado assunto. Após a imersão nos livros descobri muito mais o quanto temos a ganhar e como é prazeroso ler, desfrutar de boas histórias, viajar para vários lugares, conhecer diversas culturas estando fisicamente no mesmo lugar, entre tantas outras vantagens que a leitura nos proporciona. Ler é mágico, quase inexplicável!

  2. Que texto mais lindo e diferente! Confesso que me desconcertou não ter uma lista com um passo a passo, porém amei mesmo ter terminado com uma reflexão tão reflexiva, rs.

    Bom, meu maior incentivo veio dos meus pais e avós. Meus pais vez ou outra perguntavam o que estávamos lendo e minhas irmãs e eu compartilhávamos um resumo do livro do momento.

    Sempre vi minha avó lendo, até hoje ela lê Seleções e caça palavras no celular!

    Minha família devora livros e sempre anda com um na bolsa, seja em papel ou virtual (amo ler na praia, no avião ou na fila de espera).

    A minha leitura diária, favorita é a Bíblia! Leio desde sempre e faço anotações.

    Acredito que fazer tipo um fichamento ajuda a fixar as partes mais marcantes de cada leitura.

    1. Oi, Andressa, tudo bem? A ideia não era transformar o texto em um tutorial mágico que, do dia pra noite, seja capaz de transformar alguém em leitor (Já há tantos por aí nesse formato…). O título é mesmo um questionamento a quem chega ao blog.

      Ah, e quanto ao texto ser “diferente”, isso aqui é uma conversa, né? Não é pra ser chato! Muito obrigada pela visita e espero que volte!

  3. Quem me incentivou a ler foi uma amiga quando tínhamos 13, 14 anos. Disputávamos quem lia mais os livros da série “Vaga Lume”. Outro dia encontrei com ela e perguntei como andava as leituras e ela me respondeu que quase não lia. Disse-lhe o quanto ela foi importante para o meu gosto pela leitura. Gosto muito de ler! Antes dizia que não gostava desse negócio de ler em celular, tablet, mas confesso que hoje estou apaixonada pela facilidade que essa tecnologia trouxe. Hoje aproveito todo tempinho livre para ler um pouco. Gosto muito de Machado de Assis e agora estou lendo Quincas Borba. Acordo e já leio no mínimo um capítulo. Falo tanto de Machado de Assis, dos seus livros, que o meu esposo também baixou o livro Dom Casmurro e está lendo. Acho que o incentivo à leitura requer comentários à respeito da importância da leitura, dos livros que estamos lendo e principalmente que a pessoa leia o que gosta.

    1. Eunice, obrigada pela visita ao blog!
      Que interessante é o seu relato! Você não é a única a estranhar a leitura em mídias diferentes do livro impresso ou do jornal. Eu acho que o importante mesmo é ler (Seja lá em que formato for!). Acho que naturalmente as produções em papel serão substituídas por celulares, tablets ou alguma outra engenhoca que inventarem. Eu adoro cheiro de livro novo, mas acho que com o tempo será mais sustentável ler virtualmente.

  4. Eu também não sei como fui amar o mundo das palavras, só sei que logo que entrei nele jamais sai. Tenho 16 anos e meus amigos não são tão fãs da leitura como eu, de vez em quando recomendo um livro que sei que vão gostar (mesmo que seja só um livro de contos) já que conheço seus gostos e tal. Acho que está dando resultado, já que agora eles sempre pedem minha opinião quando pegam livros na biblioteca ou vão comprar um.

  5. Minha história é bem parecida com a sua, exceto pelo fato de que não frequentei o “prézinho”. Meus tios e primos me consideravam meio biruta, pois quando tinha um livro nas mãos não escutava ninguém, não via nada ao meu redor, pois simplesmente não conseguia parar de viajar nas páginas e nas imagens que minha imaginação criava. Hoje, como professora, não obrigo meus alunos a lerem. Levo-os à sala de leitura e deixo que passem uma aula inteira folheando todos os volumes disponíveis para que escolham aquele que lhes desperte algum interesse. Destes livros não peço registro, apenas que contem o que leram, o que sentiram, se gostaram e se algo mudou em suas cabecinhas. Ler, para mim, sempre foi e ainda é um prazer e uma alegria, fonte de descobertas e indagações, respostas a questionamentos e caminho para explorar novas possibilidades. Tem dado certo não forçá-los. Talvez o que os contagie e motive seja minha alegria e entusiasmo ao contar como a leitura fez de mim uma pessoa melhor.

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Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

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