A literatura brasileira é riquíssima e seus autores são conhecidos no mundo todo. Quando pensamos na expressão literária do século XIX e início do XX , lembramos de Machado de Assis, José de Alencar, Álvares de Azevedo, Monteiro Lobato e tantos outros. Pouco falamos sobre as mulheres escritoras daquele período e isso tem um motivo: fazer literatura era uma tarefa masculina; não era de “bom tom” que moças se dedicassem a esse tipo de atividade. Entre elas, estavam Francisca Júlia – sobre quem já escrevi aqui no blog – e Júlia Lopes de Almeida.
Em entrevista a João do Rio, em 1904, Júlia Lopes de Almeida declarou:
Pois eu em moça fazia versos. Ah! Não imagina com que encanto.
Era como um prazer proibido! Sentia ao mesmo tempo a delícia de os compor e o medo de que acabassem por descobri-los. Fechava-me no quarto, bem fechada, abria a secretária, estendia pela alvura do papel uma porção de rimas… De repente, um susto. Alguém batia à porta. E eu, com a voz embargada, dando volta à chave da secretária: já vai, já vai! A mim sempre me parecia que se viessem a saber desses versos, viria o mundo abaixo. Um dia porém, eu estava muito entretida na composição de uma história, uma história em verso, com descrições e diálogos, quando ouvi por trás de mim uma voz alegre: – Peguei-te, menina! Estremeci, pus as duas mãos em cima do papel, num arranco de defesa, mas não me foi possível. Minha irmã, adejando triunfalmente a folha e rindo a perder, bradava :– Então a menina faz versos? Vou mostrá-los ao papá! Não mostres! – É que mostro!
Júlia Lopes de Almeida nasceu, no Rio de Janeiro, em 24 de setembro de 1862, mas passou parte de sua infância em Campinas (SP). Apesar da resistência familiar, Júlia começou a atuar como colaboradora do jornal Gazeta de Campinas em 1881. Em 1887, casou-se com o português Felinto de Almeida, então diretor da Revista A Semana, editada no Rio de Janeiro.
Júlia teve uma vasta produção literária que inclui contos, romances, obras didáticas. Embora Monteiro Lobato seja reconhecido como um marco na literatura infantil brasileira, Júlia Lopes de Almeida também foi importante para esse segmento. Sua coletânea Contos Infantis, publicada pela primeira vez em 1886, era adotada pelas escolas brasileiras e foi editada 17 vezes, a última em 1927. A primeira obra infantil de Monteiro Lobato – A menina do nariz arrebitado – foi publicada pela primeira vez em 1921.
Júlia Lopes e seu marido Filinto de Almeida eram integrantes do grupo idealizador da Academia Brasileira de Letras. O marido foi eleito e fundou a cadeira número 3, hoje ocupada por Carlos Heitor Cony. Júlia era mulher! Seu nome não consta na lista de fundadores da Academia.
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Fontes de pesquisa:
LAJOLO, Marisa; ZILMERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: história & histórias. 6.ed. São Paulo: Ática, 2004.
MENDONÇA, Cátia Toledo. Júlia Lopes de Almeida: a busca da literatura feminina pela palavra. Disponível em: http://www.letras.ufpr.br/documentos/pdf_revistas/mendonca.pdf . Acesso em 24 set 2011.
MOREIRA, Nadilza. Júlia Lopes de Almeida. Disponível em: http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/catalogo/juliaLopes_vida.html . Acesso em 24 set 2011.