A coluna Literatura e Cinema é publicada esporadicamente, pois depende das minhas leituras e dos filmes que vejo. Dia desses, porém, conversando com o Laurindo Stefanelli, um dos usuários do CP e meu amigo, descobri que ele estava vendo o filme O enfermeiro, baseado na obra homônima de Machado de Assis e o convidei a fazer uma participação especial no blog. Lau Stefanelli é estudante de Letras e já participou no Conversa concedendo uma entrevista sobre o dia dos professores em 2010.
Machado de Assis é lembrado principalmente por seus três grandes romances: Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e Quincas Borba. Porém, o que nem todos sabem, é que a maior maravilha de Machado está em seus contos. Dia destes, procurando um bom filme para assistir no final de semana, descobri que muitos desses contos têm adaptação para o cinema. Assisti O Enfermeiro. Para quem ainda não conhece a história, aqui vai um brevíssimo resumo: é a história de um rapaz (Procópio) que vai a uma minúscula cidade do interior e lá tem a missão de cuidar de um velho rico (Coronel Felisberto) em troca de um bom ordenado.
Neste conto, sob o ponto de vista literário, o que percebemos de mais interessante é a maneira como Machado lida com o tempo presente do narrador, o tempo do enredo e os avanços (flashforwards) e retrocessos (flashbacks) no tempo. Em sua leitura cinematográfica, o diretor Mauro Farias, consegue repetir essas digressões eximiamente. Procópio é apresentado no prólogo do filme já idoso. No papel de narrador, lembra-se dos tempos que cuidou do Coronel Felisberto. As lembranças dentro das lembranças, o andar ziguezagueante como Machado criava suas histórias podem ser vistos no filme.
Mateus Nacthergaele faz o papel de Procópio e Paulo Autran é o Coronel Felisberto. Certamente, quem assistir, ficará maravilhado com as duas atuações, sobretudo, a de Paulo Autran. É emocionante a maneira como o ator consegue encarnar o idoso mimado e ranzinza — que mais lembra uma criança cheia de rugas. O velho coronel é a exata encarnação do ditado: quando ficamos velhos voltamos a ser criança. Sendo que essa criança é daquelas que xingam, quebram coisas, fazem manha… Capetinhas. Pobre Procópio! Todos os outros que, antes dele, aceitaram o emprego de enfermeiro do coronel, pouco tempo ficaram. Mas Procópio era um rapaz formado em Teologia. Era guiado pela mansidão e pela caridade. Além do mais tinha um bom ordenado. Há de se chegar o dia da recompensa. Afinal, nem todo crime tem castigo nesse mundo. Tão irônico Machado, não?
Laurindo Stefanelli
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Atualização em 21/06/2019: Lau Stefanelli é, atualmente, pós-graduado em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual de Londrina e passou a compor a equipe Conversa de Português após a publicação deste post.
Andréa, faço-lhe uma sugestão:
Sugiro que sempre que postar sobre um filme aqui no blog, você coloque, se conseguir, um link para baixar o filme.
Só uma sugestão.
Beijos.
Oi, Victor. A sugestão de hoje é do Lau Stefanelli. Eu não publico links para downloads de filmes, pois a maioria disponibiliza downloads que ferem direitos autorais – razão pela qual eu eliminei o link sugerido por você, ok? Não fique bravo comigo rs.
Obrigada pela sua visita ao Conversa.