Estilo é a linguagem que
transcende do plano intelectivo
para carregar a emoção e a vontade.
(Mattoso Câmara)
“Eu queria que você viesse à minha casa”. É provável que algum engraçadinho pense a seguinte resposta: “Queria? Por quê? Não quer mais?”. A minha frase corresponde àquilo que chamamos de Estilística Morfológica, a mesma que me faz usar, no blog, expressões como “nossos leitores”, “nossos textos” etc. O que, afinal, essa tal Estilística?
Estilística é uma parte dos estudos da linguagem e estuda a língua como manifestação da afetividade, enquanto a Gramática preocupa-se com a língua intelectiva. Para melhor compreendermos esse conceito, devemos fazer a distinção entre traço estilístico e erro gramatical. O primeiro é um desvio intencional das normas gramaticais, ao passo que o segundo caracteriza-se pelo desvio sem intenção estética e por desconhecimento das regras.
A estilística abrange quatro campos: morfologia, fonética, sintaxe e semântica. A estilística morfológica abrange o uso das formas gramaticais; a fônica analisa o valor expressivo dos sons; a sintática procura explicar o uso expressivo das construções frasais e a semântica refere-se ao emprego expressivo de figuras de palavras como a metáfora. Neste artigo, abordaremos a estilística morfológica e a semântica.
Pensemos no seguinte exemplo de Estilística Morfológica: “Filha, vamos tomar seu remédio?”. A mãe ou pai certamente não tomará o remédio da filha, mas usa o verbo no plural a fim de tornar a mensagem mais agradável e convencer a criança.
Outro exemplo do mesmo tipo é o emprego expressivo dos sufixos como em paizinho, mãezinha, livreco, politicalha. Nesses casos, os sufixos de gradação foram usados para atribuir valor afetivo aos termos.
Muito comum, na imprensa, é o uso do presente do indicativo em lugar do futuro para anunciar um fato que está por acontecer: “ A presidente eleita reúne-se amanhã com a equipe de transição”.
A Estilística Semântica pesquisa a significação ocasional de certas palavras, como nas frases: “Aquela tarefa foi um presente de grego.”(é necessário ao interlocutor ou leitor saber o significado da expressão); “Gostava de ler Machado de Assis” (note-se que a referência é a obra de Machado de Assis); “ O amigo passou desta para melhor” (a intenção do falante/escritor é anunciar um falecimento de maneira suavizada).
Um ótimo exemplo de uso da Estilística é a canção Tiro ao álvaro, de Adoniran Barbosa (1910-1982):
De tanto leva “frechada” do teu olhar
Meu peito até parece sabe o quê?
“Táubua” de tiro ao álvaro
Não tem mais onde furá
Teu olhar mata mais
do que bala de carabina
Que veneno estriquinina
Que peixeira de baiano
Teu olhar mata mais
que atropelamento de “automóver”
Mata mais que bala de “revórver”
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Para ouvir diretamente no Youtube, clique AQUI.
Sobre a maneira de usar a língua portuguesa, em suas composições, Adoniran Barbosa declarou certa vez:
Eles pensam que eu não sei falar “nós vamos… são uns coitados! Eu também falo “nós vamoa”, se eu quiser. Mas eu falo “nóis vai”, “nóis fumo” etc . Como fala o povo. (Extraído da Revista Língua Portuguesa – Março 2010)
Vanessa, eu assisti, sim! O programa foi muito bonito. Eu fiquei com "Tiro ao álvaro" na cabeça desde então. Há uma semana não paro de cantar isto rsrs Quando tive vontade de escrever sobre Estilística, achei que ficaria legal citar o Adoniran.
Andrea, vc assistiu ao especial Por toda a Minha vida sobre Adoniran há uns 10 dias atrás? A vida dele demonstra como soube aproveitar bem a linguagem popular para fazer sucesso. Excelente post.
Abraço