[Literatura e Cinema] Dona Flor e seus dois maridos

Dona Flor e seus dois maridos foi publicado, pela primeira vez, por Jorge Amado em 1966. A narrativa conta-nos a “esotérica e comovente história vivida por Dona Flor, emérita professora de arte culinária e seus dois maridos: o primeiro, Vadinho de apelido; de nome Dr.Teodoro Madureira, e farmacêutico o segundo”.

A citação acima foi extraída da apresentação feita pelo autor. O leitor atento reparará que o segundo marido de Flor tem sobrenome e profissão, mas qual era o ofício de Vadinho? O nome do morto só seria apresentado vinte páginas depois: Waldomiro dos Santos Guimarães. Profissão? Malandro por vocação. Vadinho era frequentador de bares, cassinos e bordéis. Era péssimo marido: assediava as alunas de Flor, contava-lhes piadas de duplo sentido e Flor orava para que ele saísse logo “para a malandragem, para a desgraça do jogo, mas deixasse as alunas em paz”. Morreu, no meio da rua, em um dia de carnaval, e vestido de mulher.

O segundo marido era bem diferente do primeiro, como diferentes também foram os noivados:

Se o primeiro casamento de Dona Flor realizou-se às carreiras, […] no segundo tudo aconteceu como devido, reinando ordem e certo brilho. O primeiro não teve noivado, indo direto do namoro (impudico) ao matrimônio, passando antes pela cama (antes da hora). […] O segundo foi puxado a convite impresso, com notícia na coluna Sociais de A Tarde […] e muita gente na Igreja de São Bento.

A vida de Flor ao lado de Teodoro era boa. O novo marido era o oposto do falecido: fiel, delicado, incapaz de um olhar atravessado para outra mulher. Comparando-se os dois casamentos a vida de Flor beirava à monotonia. E foi o tédio conjugal que a fez desejar novamente o marido morto.

Esse triângulo amoroso inusitado composto por uma dona de casa, o marido farmacêutico e o marido fantasma foi adaptado para as telas, pela primeira vez, em 1976 com a direção de Fábio Barreto.