A leitora T. Costa pediu-me que publicasse algumas informações sobre o Romantismo, movimento literário que, no Brasil, durou de 1836 a 1850. Devemos, no entanto, lembrar que as datas servem apenas como marcos temporais.
A obra que marca o início do Romantismo brasileiro é o livro Suspiros poéticos e saudades, em 1836, por Gonçalves de Magalhães. No mesmo ano, em Paris, um grupo de intelectuais brasileiros (Araújo Porto-Alegre, Torres Homem, Pereira da Silva e Gonçalves de Magalhães) lançava a Revista Niterói com temas brasileiros.
Entusiasmados com a recente independência política, os nossos intelectuais trataram de iniciar um projeto de nacionalização literária, adaptando o movimento romântico às cores da cultura brasileira. O forte nacionalismo aparecia, então, na escolha de temas ligados à história do Brasil e ao nosso contexto social e político.
O Romantismo brasileiro é estudado a partir de três momentos: nacionalismo, ultrarromantismo* e condoreirismo.
1. Nacionalismo
Os escritores românticos europeus retratavam o passado glorioso de seus países por meio da valorização dos tempos medievais. No Brasil, a busca pela nossa nacionalidade e das raízes brasileiras desenvolveu-se com o indianismo, uma das formas assumidas pelo nacionalismo romântico.O índio é apresentado, na literatura brasileira, como a representação de nosso passado histórico e apesar de viver na floresta, em estado natural (como Rousseau dissera quase um século antes sobre o “homem natural”), é apresentado com a ética do homem europeu cristão. Podemos afirmar, então, que o índio do texto literário é uma construção idealizada do silvícola brasileiro.
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi;
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
(Gonçalves Dias. I Juca Pirama)
Ultrarromantismo*
A segunda geração romântica é marcada pela expressão de forte individualismo. Nos textos do período, é possível observar a obsessão pela morte, pela melancolia, pela dor dos amores não correspondidos, a lembrança da infância. A morte é vista como a única saída para o descontentamento do eu lírico. Estão presentes nos textos o tédio, a angústia, a depressão, o desejo de morrer.
Há relatos de que estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, promoviam encontros em cemitérios e ali consumiam bebida alcóolica e éter. Uma dessas sociedades ficou conhecida como Sociedade Epicureia. Álvares de Azevedo e Bernardo Guimarães frequentavam tais eventos.
Se eu morresse amanhã
Álvares de Azevedo
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã…
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
Condoreirismo
O condor, por ser uma ave imponente e de voos altos, foi escolhido por Capistrano de Abreu para simbolizar a nova tendência do Romantismo brasileiro: poesia de exaltação a ideais libertários como a abolição e a república.
O navio negreiro (trecho)
Castro Alves
‘Stamos em pleno mar… Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm… cansam
Como turba de infantes inquieta.
‘Stamos em pleno mar… Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro…
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro…
‘Stamos em pleno mar… Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes…
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?…
‘Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas…
[…]
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
[…]
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais … inda mais… não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí… Que quadro d’amarguras!
É canto funeral! … Que tétricas figuras! …
Que cena infame e vil… Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
[…]
Fontes de pesquisa:
AZEVEDO, Álvares de. Se eu morresse amanhã. Disponível em http://www.revista.agulha.nom.br/avz7.html. Acesso em 9 ago 2010.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 33.ed. São Paulo: Cultrix, 1999.
COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil.16.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.
OLIVEIRA, C. B. Literatura sem segredos – Romantismo. São Paulo: Escala Educacional, v. 3, n. 34, 2007.
*Usou-se, aqui, a nova ortografia da língua portuguesa.