“Quantas línguas se fala no Brasil?”: esta é uma das perguntas lançadas por Irene, personagem do livro A língua de Eulália, de Marcos Bagno, onde também se pode ler a frase usada como epígrafe da sugestão de leitura de hoje. Irene é uma linguista que, ao receber três universitárias em férias, percebe uma importante falha em sua formação: todas julgam que o único saber linguístico aceitável é aquele ditado pelas gramáticas e chamado de língua-padrão, o que é percebido pelos comentários que tecem a respeito do falar de Eulália, a empregada da casa. O irônico do texto está na formação das três jovens: Letras, Psicologia e Pedagogia.
Marcos Bagno, autor também do conhecido livro Preconceito linguístico, o que é, como se faz, aborda conceitos de sociolinguística por meio de uma interessantíssima narrativa de ficção. O autor usa como base para o seu texto o conceito de variedades linguísticas e cabe a Irene explicar às suas hóspedes que a língua não é um fenômeno estanque, tampouco existe apenas uma variante correta. Aparecem, ainda, questionamentos sobre o que é erro gramatical, português padrão e português não-padrão, evoluções fonéticas da língua (como a transformação do R latino em L português, fenômeno que se dá inversamente na língua atual, como se observa na pronúncia “brusa”, em lugar de “blusa”), além de outras discussões sobre a história da língua portuguesa.
Este livro é leitura essencial para quem já está ensinando língua portuguesa e para quem ainda está no curso Letras. Também pode ser usado com alunos do Ensino Médio para atender ao programa do primeiro ano, que costuma abordar muito superficialmente o tema variedades linguísticas.
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 16.ed. São Paulo: Contexto, 2008. 219p.
Olá Andréa,
foi o primeiro livro que li quando comecei a frequentar o curso de Letras. Gostei tanto dele que até o recomendei a meus amigos leigos.
Um abraço
Juliana, eu acho esse livro fundamental para o profissional de Letras e funciona muito bem com as turmas iniciais do Ensino Médio. Obrigada pela visita!
Também acho e recomendaria a meus alunos.
Muita gente não entende a questão levantada pelo Bagno e outros linguistas sobre o preconceito linguístico. Já discuti muito sobre isso com estudiosos da nossa língua que abominam as teorias do Bagno e que certamente não tiveram uma lição de Dante Alighieri (com referência ao que foi citado no início do texto).
Ótima sugestão! O livro é sem dúvida alguma obrigatório, não apenas aos estudiosos da língua e seus fenômenos, como também a todos os falantes do português que se interessam por essa língua tão rica que de maneira alguma se aprmostra homogênea. Ajuda também a desmistificar alguns conceitos errôneos arraigados em muitos de nós há anos e proporciona ao leitor o acesso a questões complexas de ordem linguística de maneira didática e envolvente.