A Base IV do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) trata das “sequências consonânticas”, principalmente aquelas que chamamos popularmente de consoantes mudas; neste caso, encontram-se palavras como aspecto, concepção e corrupto. Apesar do rebuliço que se fez sobre essa base, não há nenhuma grande alteração, principalmente para os brasileiros, mas vale a pena conhecer o que diz o documento.
Diz o primeiro artigo da Base IV:
O c, […], nas sequências cc, cç, ct, e o p das sequências interiores pc, pç e pt, ora se conservam, ora se eliminam.
Deste modo:
a. Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua: compacto, convicção, ficção, friccionar, pacto, adepto, apto, erupção, eucalipto, núpcias, rapto.
b. Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua: ação, acionar; afetivo, aflição, aflito, ato, ação, coleção, coletivo, direção, diretor, exato, objeção; adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo.
Obs: Esta regra em nada altera a vida dos brasileiros, pois esta já é a nossa ortografia desde 1971).
c. Conservam-se ou eliminam-se facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre entre a prolação e o emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e dição, facto e fato, sector e setor; ceptro e cetro, concepção e conceção , corrupto e corruto, recepção e receção.
Obs: Esta regra trouxe algum desconforto, especialmente em Portugal, onde facto e fato não têm o mesmo significado. Naquele país, fato designa a peça de vestuário que os brasileiros chamam de terno e , para os portugueses, a alteração ortográfica provoca uma confusão semântica. A justifica para a grafia facto é a etimologia da língua, pois “factum” (latim) designava uma ação, um feito; “fato”, como utilizam os portugueses, tem origem em “hato” (hispânico), cujo significado é roupa.
d. Quando, nas sequências mpc, mpç e mpt, se eliminar o p de acordo com o determinado nos itens anteriore, o m passa a n, escrevendo-se, respectivamente, nc, nç e nt: assumpcionista e assuncionista; assumpção e assunção; assumptível e assuntível; sumptuoso e suntuoso.
Obs: Mais uma regra que não muda nada para os brasileiros, já que sempre usamos a segunda forma de cada par acima.
O segundo artigo da Base IV diz :
Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação ou o emudecimento: o b da sequência bd, em súbdito (Brasil: súdito); o b da sequência bt, em subtil e seus derivados (Brasil: sutil); o g da sequência amígdala; o m da sequência mn, como em amnistia (Brasil: anistia), omnipotente (Brasil: onipotente); o t na sequência tm: aritmética.
Fontes de pesquisa:
HOUAISS, Antônio. Minidicionário Houaiss da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
RIBEIRO, Manoel P. Novo Acordo Ortográfico: soluções, dúvidas e dificuldades para o ensino. Rio de Janeiro: Metáfora, 2008.