Língua Portuguesa

Crase – Dúvida do leitor

No trecho: “Albertina sempre dizia à amiga que sua atitude a respeito dos homens estava correta.” O emprego ou não do sinal da crase na frase acima está de acordo com a norma culta da língua?
R.
A frase  enviada   pelo  leitor  está  correta.   No  exemplo acima, a crase  foi  motivada  pelo encontro  da  preposição  A, exigida  pela  regência do  verbo  dizer, com  o  artigo  A, que acompanha o substantivo amiga.  Como  saber, no entanto,  quando devemos ou não  usar  o  acento  indicativo de  crase? Pergunta semelhante  foi respondida  aqui  em  março e  transcrevo  parte da  resposta.

 

Crase  é  fenômeno fonético  que  ocorre devido à  contração de duas  vogais idênticas; neste caso, o  artigo  feminino A e a  preposição A. Na  língua  portuguesa, tal  fenômeno é  indicado  graficamente pelo acento grave ( ` ).

 

Não irei à  cidade  hoje.
Chegarei à uma   hora e  voltarei às  oito.

 

Quem determina se  ocorre  crase ou não  é  a palavra anterior  ao A, de acordo  com  sua  regência; ou seja,  é o verbo ou  mesmo  um nome (termo que abrange, em gramática, os substantivos, advérbios  e adjetivos) que  indicará se há necessidade de  uma preposição ou  não. O item da   gramática que   aborda esse  assunto  é chamado  de   regência verbal  e  regência  nominal.

 

1.  Um dos  recursos  mais  utilizados para  identificar a necessidade do acento grave  é a  troca  de  preposição: A preposição  A relaciona-se com  as preposições  para, de, em,  por. Neste caso, pode-se tentar  trocar a  preposição por  uma destas  outras. Se desta troca resultar  as formas  para a,  da, na, pela, o A pode  ser acentuado.

 

Fiz uma excursão para  Brasília  – Fiz  uma  excursão à  Brasília.

 

2. Troque a palavra feminina por uma  masculina equivalente; ou seja:   substantivo  comum no lugar de  substantivo, pronome  no   lugar de   pronome etc. Essa   troca não pode  ser   feita de  maneira  aleatória, nem  usada  como único  recurso para  justificar a presença ou  ausência da crase e deve-se  observar, ainda, o seguinte:

 

Se, antes da  palavra masculina, aparecer ao(s),  use  crase antes da  palavra  feminina. Ex.: Ele se dirigiu  à fazenda.   /  Ele se  dirigiu ao clube.

 

Se, antes da palavra masculina, aparecer apenas a preposição a ou artigo  o, não se  usa  crase antes da palavra  feminina. Ex.:  Os   turistas   visitaram  a cidade.  / Os   turistas    visitaram  o  museu.

 

Dependendo  de  certos fatores , o emprego do  sinal de crase  pode ser obrigatório, opcional ou proibido.

 

Casos em  que  a  crase é proibida:
1.  Com palavras  masculinas. Ex.:  Escreva o  texto a  lápis.

 

2. com verbos. Ex.: Ela começou a  escrever.
3. Com os  demonstrativos esta (s), essa (s) e o relativo cuja (s). Ex.: Dou   valor  a essa   vitória.

 

4. Com pronomes  pessoais do  caso  reto e  pronomes de tratamento. Ex.: Obedeço a  ela, não  a   Vossa   Senhoria.

 

5. Com preposição A +  palavra  plural. Ex.: Referia-se a  questões políticas.

 

6. Entre palavras  repetidas.  Ex.: Estávamos   frente a  frente

 

7. Com nomes de  cidades (sem especificativo).  Ex.: Iremos a  São  Paulo.

 

8. Com a palavra casa (sem especificativo). Ex.: Chegamos  cedo  a  casa.
9.  Com a  palavra   terra (no sentido  oposto ao  de  água). Ex.: O náufrago  chegou  a terra.

 

Observações:
1ª) Com nomes de  cidade, havendo especificativo, ocorrerá crase. Ex.: Iremos à   bela   São Paulo.

 

2ª) Se a palavra  casa   apresentar um especificativo,  ocorrerá crase. Ex.: Chegamos cedo à  casa de  nossos  amigos.

 

Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

Artigos relacionados